De: Rui Valente - "Eureka!"
Estamos sempre a aprender. Agora, fiquei a saber pelo Sr. Bonifácio, que foi graças a pessoas como eu que o Porto chegou ao marasmo em que está. Muito profunda a conclusão.
Não imagino como, nem por quê, mas que não foi por ter vínculos com qualquer partido político, isso posso garantir que não foi. Então, por que terá sido?
Por dizer evidências algo incómodas, entre as quais se destaca o factual centralismo lisboeta, que a meu ver, continua a ser o nosso maior cancro económico e social?
De mim, parece já saber tudo, mas senhor Bonifácio, vamos lá, faça sair os coelhos da cartola e diga-me o que tem feito o senhor de interessante para o desenvolvimento regional do país e com que recursos?
Não quero palavras, porque essa, é a única matéria-prima gratuita de que até hoje ainda vamos podendo dispor para dizer algumas coisas, mas suponho não ser a isso que se refere quando fala em marasmo. Portanto, mostre-me a diferença, se faz favor e diga-me onde está reflectida a sua acção concreta em prol da cidade do Porto, que suponho ser também a sua.
Diz-me, que em França, Inglaterra e nos países nórdicos, a macrocefalia das respectivas capitais subjuga o resto do país. Não estará porventura, a exagerar?
Sabe que eu não me importava nada de ser "subjugado" como fazem nos países nórdicos mas de ter o seu altíssimo nível de vida e principalmente, a sua dimensão cívica? Acredite, que também não me incomodava nada viver num país com regiões autónomas, como é o caso da Espanha, onde cada uma delas, entre outras vantagens, pode usufruir de meios de comunicação social poderosos, como televisões e rádios locais e dessa forma também dar voz às suas gentes e aos seus problemas?
O senhor Bonifácio considera que esse pequeno detalhe, chamado autonomia, não os ajudou a desenvolver-se? Ou achará que a Espanha, com todos os seus problemas étnicos e culturais, já não estaria desintegrada enquanto nação se não soubesse abrir os olhos atempadamente e fazer o que fez? Não acha que o modo como um pequeno país como Portugal tem sido gerido ao longo dos anos é exactamente o oposto do exemplo espanhol, faccioso e fraccionário?
Nunca tivemos problemas de autonomia como em Espanha, mas desde de Abril de 74, em lugar de evitarem focos de tensão, os nossos governantes andaram cega e estupidamente a fazer tudo para os germinar. É inteligente isto? É delapidando os recursos regionais que se contribui para a coesão nacional? É recordar Trás-os-Montes e Alto Douro para localizar centrais nucleares e esquecê-los quando se trata de ali instalar hospitais, escolas, estradas, etc., etc.? Estará o senhor à espera que nos tornemos numa América Latina para, enfim, se aperceber da nossa real situação?
Estarei a sonhar? O senhor, diz que o Porto está muito melhor que Lisboa, em que aspecto, é capaz de especificar? Será economicamente? Para não irmos mais longe, é bom ficarmos mesmo por aqui: não será esse o lado mais sério do problema?
Para terminar e descodificar de vez essa história já gasta e rançosa do choradinho, gostava de saber a razão pela qual, quando o Arqº. Pulido Valente apelou à mobilização no caso das obras dos Aliados quase todos fizeram ouvidos de mercador. Afinal, quem se fica pelo lamento cómodo do sofá?
Se insistir bater na tecla da autoflagelação, incluindo-me no rol dos masoquistas locais, no qual não me revejo, voltarei a repudiar essa colagem mal intencionada e, desde já, deixo-lhe a sugestão para se virar para destinatários mais "esclarecidos" como: Belmiro de Azevedo, Joaquim Oliveira, H. Amorim, etc.
Estes e outros como eles, é que devem saber das razões que os levaram a criar e comprar (entre outras) agências de notícias, jornais e televisões, algumas sedeadas no Porto, mas quase todas dirigidas a partir de Lisboa. Será a estas pessoas que se refere quando diz que só nos podemos queixar de nós próprios? Então, por favor, preste-me justiça e tire-me já desse filme.
Rui Valente
Nota 1: A força cívica e política de um país não se avalia apenas pelos pareceres dos arquitectos mas pelo parecer de todos os cidadãos.
Nota 2: Dalida, embora egípcia, tinha de facto pai italiano e era uma cidadã francesa. A esse propósito (que muito apreciei), deixo-lhe aqui um conselho: quando lhe perguntarem a naturalidade para fazer a reserva de um simples quarto de hotel, não se esqueça de entregar ao recepcionista a sua árvore genealógica. Aprecio o rigôr, mas não precisa exagerar.
Nota 3: Pelo andar da carruagem talvez estejamos todos enganados. O Porto e alguns bloguistas como o Sr. Bonifácio, afinal estão bem.