De: Pedro Menezes Simões - "Migalhas"
Caro Tiago
Talvez não me tenha feito entender. Não defendo o egoísmo dos autarcas. Pelo contrário, sou a favor de maior cooperação intermunicipal. Mas não sou ingénuo a ponto de pensar que os autarcas não privilegiam as suas autarquias. Que aceitam de bom grado todas as benesses do Estado. Aliás, quando se trata de "pedir" investimentos ao Estado Central, há que dizer que o incentivo a desperdiçar recursos é enorme: os autarcas têm os louros da obra que fazem, mas não têm o ónus de cobrar o dinheiro com que fazem a obra. Todos conhecemos péssimos investimentos em todo o país, feitos por pressão dos autarcas, mas pagos pelo Estado Central.
O associativismo tem melhorado isto. Por exemplo, não houvesse a AMP e teriamos mais linhas de metro no Porto, e menos nos concelhos vizinhos. Coordenar esforços é o melhor caminho. Já achar que a AMP tem por vocação defender o interesse de todo o Norte é simplesmente ingenuidade. A AMP poderá defender o Norte por isso interessar ao Porto. Poderá fazê-lo por simpatia dos seus líderes. Mas se alguém quer responsáveis políticos a defender o interesse global de todo norte, é preciso uma associação de municípios do Norte. Ou uma região política Norte.
Digo isto a propósito de muitos debates blogósfericos, onde o Porto é acusado de "centralismo". Ora, como a única entidade capaz de ser centralista é o Estado Central, isto não faz sentido nenhum. As outras entidades políticas autónomas (i.e. democraticamente eleitas) que existem são as câmaras municipais. O Porto não tem duas caras. Tem milhares delas. Uma coisa é a opinião pública do Porto, que luta pelo Norte. Outra são os seus responsáveis políticos que têm que prestar contas localmente. E por muito boa vontade que tenham, não podem fugir disso. Acusar alguém de "portocentrismo" quando, no enquadramento institucional actual, é esse o seu papel, revela um nível muito grande de ingenuidade.
Esta não é uma questão de menor importância. Vivemos num país altamente centralizado em Lisboa. Mas isto não parece preocupar o resto do Norte. Preocupa-o mais o Porto. Não lhes preocupa que quem distribui o bolo só lhes atribui migalhas. Com as migalhas podem bem. Não suportam é que tenha havido alguém que aparentemente tenha conseguido uma fatiazinha, por ridícula que seja.