De: Luís Bonifácio - "Lamentações não levam a lado nenhum"

Submetido por taf em Quarta, 2006-05-24 10:19

Tenho vindo a acompanhar as intervenções de Rui Valente, com um certo espanto, pois verifico que foi graças a pessoas como ele, que o Porto chegou a um marasmo tal, que só agora, e mais lentamente do que seria desejável, se começa a libertar. Fala em agir, mas ao mesmo tempo não faz nada, pois é sempre bastante confortável atirar as culpas para o "poder central Lisboeta".

Ainda me lembro muito bem do marasmo cultural do Porto nos anos 80, onde os concertos da Orquestra Sinfónica do Porto não tinham mais de 50 pessoas a assistir, onde só havia uma companhia teatral a actuar quase sem subsídios, pois estes últimos iam para outra companhia que não levava nada à cena e onde os filmes de autor estreavam passado um ano de o terem sido em..... Braga! Uma vez por ano havia um sopro de ar chamado Fantasporto e pouco mais.

É certo que a macrocefalia de Lisboa é um obstáculo, mas é uma macrocefalia muito menor que em França, Inglaterra, paises nórdicos, onde o peso da capital subjuga o resto do país. O poder central de Lisboa não é nada comparado com o centralismo madrileno do tempo de Franco. E quais eram as regiões mais desenvolvidas de Espanha quando o ditador morreu? Madrid? Não! As regiões mais desenvolvidas eram justamente aquelas que mais foram espezinhadas pelo regime. Como conseguiram isso? Certamente não foi dando largas a "complexos de Calimero".

Hoje em dia o Porto está muito diferente e para melhor. Está muito melhor que Lisboa, mas ainda falta muita coisa, sobretudo aproveitar os equipamentos com que foi dotado recentemente. Para isso é preciso puxar pela cabeça, arranjar novas ideias, arregaçar as mangas e trabalhar muito e as lamentações não levam a lado nenhum.

NOTA 1: Conhecendo os "Nuestros Hermanos" como conheço, digo que se o arquitecto fosse espanhol, as árvores já estavam no chão.
NOTA 2: Dalida era Egípcia (Miss Egipto 1954), filha de pai Italiano e naturalizou-se Francesa nos anos 60. O seu primeiro exito chamava-se Madonna e era a versão francesa de o "Barco Negro" de Amália Rodrigues.