De: Tiago Cortez - "Uma cidade, ou muitas aldeias conurbadas?"
Caro Nicolau Pais
A Avenida da Boavista é quase a única via estruturante em todo o Porto Ocidental (e não tem nem de longe metade da largura das muitas, mas mesmo muitas avenidas valencianas). Não podemos pensar en construir uma avenida que dure um século, e apostar em densidade baixíssima, e empreendimentos de estilo suburbano (que constroem os seus arruamentos, numa lógica, não de espaço público, mas de acesso aos ditos empreendimentos). O Porto só cresce tanto para fora porque dentro se desperdiça o espaço desta forma. Basta ver que na cidade de Valência moram 50% dos habitantes da área metropolitana, e no Porto 10%, com tendência a decrescer, e sem contar com Aveiro e Braga.
No entanto, reparamos ao andar pelo Porto numa gigantesca quantidade de quintas privadas, hortos, núcleos rurais, cujas ruas primitivas foram apenas asfaltadas e ligadas às escassas vias estruturantes, e os ditos empreendimentos, que tornam o Porto "um subúrbio de si mesmo"... O centro da cidade ficou asfixiado, sem espaço para crescer, por causa da insistência em expandir em área a cidade, sem proceder à sua urbanização, e de certa forma, apareceu o policentrismo. Neste momento a Baixa do Porto é uma entre muitas baixas. Não existe propriamente uma Baixa do Porto. No entanto a zona da nova avenida (que eu não considero zona residencial, mas zona por urbanizar, pois aquilo é basicamente um arrabalde, uma aldeia dos arredores; basta ver a população de Nevogilde, que facilmente habitaria toda em dois ou três prédios), é o entretanto entre duas baixas do Porto, a Baixa/Boavista, e o centro de Matosinhos. Estas duas zonas poderiam ser unidas em efectivo (prolongamento da avenida para Matosinhos, estruturando toda a faixa atlântica da cidade, entre os rios Leça e Douro), criando uma malha urbana contínua, mais extensa e deixando as "zonas residenciais" para Vila do Conde e Póvoa.
Um elemento que este projecto parece esquecer, e que na minha opinião é a base do sistema urbano, são os quarteirões. Este crescimento apenas à volta de vias estruturantes, como estradas nacionais, ou avenidas mirradas muito escassas, parece-me um mau sistema. Ter ou não ter quarteirões pode fazer muita diferença! Uma cidade a meu ver é um conjunto de querteirões, algo a duas dimensões, não a uma (ao longo de estradas). Gostava de ver uma estrutura de quarteirões e frente urbana contínua, de Matosinhos à Baixa, e igualmente em Gaia. Em Gondomar era demolir aquilo tudo e aí sim fazer zonas residenciais de baixa densidade, mais adaptadas ao estilo do terreno. Para que esta área toda funcione como uma verdadeira cidade, e não um amontoado de aldeias e urbanizações, com mini-baixas pelo meio.
Caro TAF, onde é o limite da cidade do Porto onde se poderiam fazer avenidas de 70m de largura, com metro e ciclovia??? A cidade do Porto tem um fim????
Mais uma coisa, a construção exagerada na costa valenciana não me parece dever-se à cidade de Valência, mas ao turismo de massas (um caso mais fácil de comparar ao Algarve que ao Porto).
Temos de crescer para dentro, e estruturar esse crescimento. Custa mais, mas mais vale agora que daqui a 100 anos termos um problema mais difícil de resolver. A demolição pode ser uma boa solução, assim como a eliminação de arruamentos primitivos (ou deixá-los para os peões).