De: Pedro Aroso - "Com Conta, Peso e Medida"
Caro Jorge Ricardo Pinto
Num raio de menos de 500 metros, a cidade do Porto tem três edifícios notáveis:
- 1. A Garagem do Comércio do Porto (Arquitectura Moderna).
- 2. O Hotel Infante de Sagres (Arquitectura estilo Português Suave).
- 3. O edifício do antigo jornal "O Comércio do Porto" (Arquitectura Neo-Clássica).
Sabe aquilo que têm em comum? Duas coisas:
- a) Foram construídos sensivelmente na mesma altura.
- b) Foram todos projectados pelo mesmo arquitecto: Rogério de Azevedo.
Para a História da Arquitectura da cidade, aquele que é realmente importante, é a garagem, porque esse é verdadeiramente inovador. Pessoalmente, também gosto muito do hotel. Não é por acaso que o Dr. Mário Soares o escolhia para pernoitar, sempre que ficava no Porto. Já o "Comércio", podemos compará-lo ao edifício da Câmara Municipal do Porto, ou seja, é mais um pastelão de calhaus, embora tenha sido muito beneficiado com a intervenção recente do arquitecto Jorge Teixeira de Sousa.
Em relação à Arquitectura Neo-Manuelina existente no nosso país, só me ocorre um bom exemplo. Refiro-me ao Hotel do Buçaco, mandado construir, se não estou em erro, pelo rei D. Carlos, como casa de apoio à coutada onde costumava caçar.
Eu era cliente do sapateiro a quem esteve alugada a Casa Neo-Manuelina. Era um tipo simpático e educado, com um ar muito aristocrático (uma mistura de lorde inglês com o Buffalo Bill). De vez em quando falava-me das negociações com o senhorio para deixar a casa. Tenho uma vaga ideia de ele me ter dito que só saía quando o senhorio se "chegasse" com trinta mil contos. Um dia fez questão de me mostrar o estado do interior. Devo dizer-lhe que fiquei espantado com o tamanho. A julgar pela aparência, sempre imaginei que a casa fosse muito maior. Concordo que o edifício tem interesse patrimonial, por isso mesmo votei favoravelmente a sua classificação. Mas não tenhamos ilusões: a sua recuperação só será viável se for encontrada uma solução que permita aumentar a capacidade construtiva do lote, apostando numa ampliação, com uma integração fortemente apoiada numa colagem por contraste.