De: Rui Moreira - "António Alves e o TGV"
Tenho muito apreço por tudo o que escreve, mas desta vez parece que não estamos de acordo. Ou não percebeu o que eu disse (e nesse caso a culpa é minha, mas naquele programa não é fácil alguém dizer uma frase até ao fim...), ou devemos estar a falar de coisas diferentes, ou eu estarei de facto muito enganado. Por favor leia o Público de amanhã.
Há desde logo um problema: é inadmissível que se fale de TGV em bitola ibérica. Como deve saber, os espanhóis já decidiram que a bitola será europeia em TODAS as suas novas linhas e que, a dez anos de prazo, todas as velhas linhas de bitola ibérica serão transformadas.
Há um segundo problema: a linha Galiza/Porto de TGV (350 km/hora) é uma miragem. Há dias, relatava o ABC:
"La conexión Lisboa-Oporto será de alta velocidad pero de Oporto a Vigo se realizará con especificaciones de 220 a 250 kilómetros por hora, ligeramente inferiores, para ahorrar costos en trazados, túneles y viaductos, por la difícil orografía de la zona. El ministro portugués de Obras Públicas, Mario Lino, confirmó ayer que la conexión Oporto-Vigo anticipará su entrada en funcionamiento a 2013 ó 2014 y se realizará en dos fases. La primera será continuar el tramo existente Oporto-Braga mediante una nueva línea de ancho de vía ibérico hasta Valenca do Minho, en la frontera española con Galicia. «En el futuro decidiremos -en la segunda fase- sobre la adaptación al ancho de vía europeo, pero la actual es una solución bastante más económica, prevista ya por el Gobierno anterior y compatible con la que se utiliza en España», agregó el ministro portugués de Obras Públicas."
Ou seja, não haverá, e como já disse acima, nenhum TGV entre o Porto e a Galiza. Haverá apenas uma linha nova entre a fronteira e Braga que aproveitará, para sul, a actual linha para o Porto e directamente a Campanhã. Ou seja, o TGV Lisboa/Corunha não existe. Não me parece que daí venha grande mal ao Mundo, e vou tentar ser claro: sempre tive dúvidas relativamente à história do TGV Porto/Vigo.
Sempre me pareceu que era uma compensação por não ser construída (no futuro previsível) a linha Aveiro/Salamanca, que era vital para a nossa indústria (que está localizada no Centro e Norte). Ao contrário do que um senhor escreve por aí, não esqueci a possibilidade da linha do Douro, mas o impacto ambiental da sua transformação numa linha de alta velocidade ou até de velocidade alta seria terrível para o Douro vinhateiro e, além disso, os espanhóis não estão interessados em fazer a ligação à fronteira (veja-se o desenho que junto). O nosso "wishful thinking" é inútil, por muito que eu compreenda todos esses argumentos.
Para a ACP, a Região Norte tem como grande prioridade o transporte de mercadorias para a Europa, em bitola standard, e deverá ter acesso ao ponto estratégico que é Medina del Campo (perto de Valladolid), ponto a partir do qual poderá atingir diversos destinos como: Europa, Madrid e a rede espanhola. O percurso mais directo será através de Porto - Aveiro - Salamanca.
Verificou-se pois o que sempre admitimos. Não vai haver TGV entre Porto e a Galiza. O que haverá é uma linha convencional nova, a norte de Braga. Ora, sendo isso perfeitamente razoável como solução, levanta problemas de compatibilidade. Se a linha espanhola for feita em bitola europeia, a nossa linha só pode ser feita nessa mesma bitola. E se for aproveitado o actual corredor Braga/Porto, ou se altera a sua bitola, ou se usam comboios com os caríssimos intercambiadores, ou se instalam travessas de dupla fixação (que permitem a circulação de composições de ambas as bitolas). Enquanto isto não está decidido, percebe-se que se vai perdendo tempo, e estamos a falar de uma linha que afinal só estará pronta em 2015.
O grande problema, além da questão técnica da compatibilização, é que neste momento e nesta fase, o aeroporto Francisco Sá Carneiro não estará ligada à rede ferroviária. E isso (que confirmei com a Senhora Secretária de Estado) é inadmissivel para o Norte, não apenas para o Porto.
Segundo me disse a Senhora Secretária de Estado (e estarei com ela no Sábado para discutir este tema), a ligação aeroporto/Campanhã é impossível de ser realizada nesta altura porque terá de ser feita toda ela em túnel. Por isso, e usando este argumento para defender o aproveitamento da linha Braga/ Porto (Campanhã), sugere o Governo que só numa segunda fase (2025?) se virá a fazer um novo canal Braga / Trofa / Aeroporto. Mas alguém acredita?
Eu não estarei vivo certamente... Ora, se o problema é a ligação Aeroporto / Campanhã, prefiro que a linha da Galiza aproveite a linha de Braga até à Trofa e (no âmbito da variante que aí será necessário construir como se sabe) se abra um canal até ao aeroporto. Mesmo que essa linha termine no aeroporto, mesmo que não seja possível de momento construir a ligação Aeroporto / Campanhã, mesmo que, por isso, (e até então) a articulação entre a linha Sá Carneiro / Galiza e Campanhã / Lisboa se faça apenas pelo Metro do Porto.
Eu sei que esta é uma matéria complicada, e admito estar a ver mal o problema. Julgo que não... Mas não se trata de portocentrismo. O aeroporto (a par do Porto de Leixões) é o principal íman que pode atrair os galegos à região Norte e não pode ficar fora da rede de TGV, sob pena de desaparecer. Podemos transigir, dispensar a versão TGV e mesmo a união entre as duas linhas, mas não podemos deixar de fora o aeroporto. É esta a minha opinião, com base no que temos estudado.