De: António Alves - "Ligação ao Europarque - remate final"
Nas condições actuais é possível fazer uma viagem de comboio entre Porto - Campanhã e a Vila da Feira em cerca de 1 hora e 10 minutos. Este tempo inclui 15 minutos para transbordo na Estação de Espinho. As condições objectivas actualmente existentes em Espinho são más.
A distância, por caminho de ferro, entre Espinho e a Vila da Feira é de 19 km. Estes 19 quilómetros são actualmente vencidos pelas automotoras do Vouga num tempo médio de 35 minutos - isto é, os comboios circulam a uma velocidade comercial de 32,6 km/h. Se o Ramal do Vouga fosse modernizado e a velocidade comercial fosse elevada para, por exemplo, uns modestíssimos 50 km/h (nada de transcendente para as tecnologias actualmente disponíveis; podemos mesmo ser bastante mais exigentes) a distância seria vencida em 23 minutos.
Ora bem, estamos no futuro próximo e vamos iniciar a nossa viagem em Porto Campanhã. Embarquemos num dos "amarelos" da CP Porto e rumemos a Espinho. Se o comboio parar em todas as estações e apeadeiros chegaremos lá em 22 minutos; se efectuar paragens apenas em estações, desembarcaremos em Espinho 17 minutos após o início da viagem. Como a Estação de Espinho está a ser modernizada, no futuro, 5 minutos será um tempo mais do que suficiente para, numa estação moderna e funcional, efectuar um transbordo entre comboios. Agora, a bordo do tram-train da modernizada Linha do Vouga, espera-nos mais 23 minutos de viagem, com paragem nas intermédias, até à cidade das fogaças. Tempo total de viagem desde Porto - Campanhã à Vila da Feira: 50 minutos na 1ª opção (comboio que para em todas as estações e apeadeiros entre Porto e Espinho); 45 minutos na 2ª opção (paragens apenas em estações). São tempos perfeitamente aceitáveis para uma viagem desta distância em transporte público. Havendo vontade e capital é possível conseguir melhor.
Existe uma outra solução, que eliminaria a necessidade de transbordo em Espinho. A exemplo do que foi já feito na Linha de Guimarães, requalificar-se-ia a Linha do Vouga de via métrica para via larga (1668 mm de bitola) e ela entroncaria directamente na Linha do Norte em Espinho. Neste caso eliminaríamos o tempo perdido em transbordo e poder-se-iam efectuar comboios directos da CP Porto até Vila da Feira, S. João da Madeira e mesmo Águeda. Seria a solução ideal.
Neste momento decorrem em Espinho obras para rebaixamento da via para que em breve o caminho-de-ferro (Linha do Norte) atravesse a cidade no subsolo. Este projecto não contempla o rebaixamento da Linha do Vouga. Logo, dentro de pouco tempo esta ficará a uma cota diferente da Linha do Norte. Para se optar por esta última solução, sem dúvida a melhor, será necessário também rebaixar a fase final da Linha do Vouga na sua aproximação à cidade de Espinho.
Como se prova, não é necessário lançar qualquer linha de metro entre Gaia e a Vila da Feira. As alternativas já existem e devem ser aproveitadas. A malha ferroviária existente na área metropolitana do Porto encontra-se subaproveitada. O conceito dos três erres - reutilizar, reciclar e reduzir - deve ser entendido de modo lato e não restrito aos lixos domésticos. Reutilizemos e reciclemos o que já existe reduzindo os custos. Poupemos onde é possível poupar para gastar onde não existem alternativas viáveis como, por exemplo, Gondomar.
Precisa-se também de pensar em rede, aproveitar todos os modos existentes e sincronizá-los uns com os outros; olhar para a imagem completa (desconfio que as pessoas que lançam estas propostas desconhecem por completo a existência do Ramal do Vouga) e não andar casuisticamente à procura de soluções. É assim que se faz em Viena de Áustria, que no campo dos transportes públicos metropolitanos é um bom exemplo. Lá convivem harmoniosamente vários modos de transporte - comboios urbanos, metro, eléctricos e autocarros -, cada um nos percursos para que está mais vocacionado, mas funcionando conjugados e ao serviço das pessoas. Para quando a Autoridade Metropolitana de Transportes?
Obrigado pela paciência :-)
António Alves
P.S. Espero ter convencido completamente o Pedro Aroso. Quanto aos transbordos: eles não me parecem assim tão desincentivadores da utilização do transporte público. Afinal, eu quando quero ir ao Corte Inglês, apanho o metro na Casa da Música, saio na Trindade, "transbordo" para outro, sigo até destino e não me custa nada. Quanto aos estrangeiros: eles estão muito mais habituados que nós a fazer transbordos frequentes. Os vienenses são um bom exemplo. O que é necessário é que as estações sejam funcionais e confortáveis.