De: F. Rocha Antunes - "Porto MEGA"
Meus Caros,
Aproveitei estes dias para ler o extenso documento que a Arquitecta Paula Morais referenciou a propósito dos estudos sobre áreas metropolitanas de crescimento económico que alguns organismos europeus têm feito.
Como pode constatar quem se der a semelhante trabalheira, o Porto está referenciado, como foi dito pela Arq. Paula Morais, como uma das áreas metropolitanas com maior potencial crescimento. Para ser mais concreto, o estudo revela que o Porto, se for capaz de ter de si próprio uma ideia correcta à escala regional europeia, poderá praticamente duplicar a sua posição no ranking, passando do actual 45º lugar para 23º lugar.
A ideia base é que a área demográfica urbana à volta do Porto, considerando a isócrona de 45 minutos (linha que define a região que fica a 45 minutos de carro a partir do Porto) pode ser fortemente dinamizada, em termos económicos, apenas com o aumento dos fluxos e da cooperação entre todas os núcleos urbanos desta mesma área. Ou seja, existe prova científica para desmantelar vigorosamente as “paróquias” em que conseguimos retalhar o Noroeste (só câmaras municipais são 46…).
A possibilidade de funcionamento em rede deveria tornar-se na obrigação de funcionamento em rede, se quisermos criar as condições para um novo e sustentado desenvolvimento económico. Em todos os sectores da vida colectiva isso é verdade, e depende muito mais de cada um de nós do que gostaríamos para o nosso sossego.
Vou dar dois exemplos, um público e outro privado, para se perceber melhor do que falo: as maternidades e as empresas privadas de autocarros.
As maternidades devem ser distribuídas de modo a dar cobertura integral a toda a área metropolitana, e deixar de ser considerado um privilégio concelhio. O que deve determinar é o tempo médio de acesso de cada grávida à maternidade mais próxima e não o “também temos direito a uma mesmo que não se justifique”.
As empresas de transporte de passageiros que detêm concessões que foram definidas antes da rede de auto-estradas ter sido desenvolvida devem passar a funcionar elas também em rede, para assegurar a cobertura adequada à população. Por outras palavras, devem fazer o mesmo que os STCP já começaram corajosamente a fazer, ou seja, redesenhar as suas redes em função das novas realidades que são o Metro, os comboios suburbanos e as novas vias. Claro que neste caso é imprescindível que a invenção fantasma que se chama Autoridade Metropolitana de Transportes passasse a existir. O excesso de regulamentação, mais uma vez, mata a economia. Neste caso, impede a utilização racional do espaço por empresas e trabalhadores.
E podem-se multiplicar os exemplos por todas as áreas em que se queira, desde a universidade aos tribunais, dos arquitectos aos padeiros, das lavandarias aos hotéis, tantos quantos sectores de actividade existam e não estejam correctamente dimensionados para tirar partido do mercado de 2.400.000 habitantes que somos. E que insistimos em não nos assumirmos como tal.
Perdemos todos, porque ficamos mais pobres do que poderíamos ser. Mas os que agem com esse quadro de referência vão ser mais prósperos. Leva é mais tempo a generalizar a prosperidade a todos, o que é o maior dos desperdícios.
Francisco Rocha Antunes
Promotor imobiliário