De: David Afonso - "Não se esqueçam do tenente!"

Submetido por taf em Sábado, 2007-03-17 14:45

Café «Piolho»  Irene Jardim

Uma cidade faz-se de pequenas coisas. Já se sabia que a popularidade da zona do "Piolho" tem vindo a subir. Se a noite estiver agradável, é praticamente impossível encontrar uma mesa onde se sentar e a multidão que se acumula em frente dos cafés é deveras impressionante. É claro que também há o reverso: carros em estacionamento selvagem, charro-aqui-charro-acolá, toda a espécie de cravas e, meu deus!, até djambés em concorrência com as tunas fanhosas da nossa universidade. Mas agora temos novidade (e das boas): Irene Jardim veio para ajudar a subir um pouco o nível. A esplanada é muito agradável (o "Piolho" devia era livrar-se daquela gaiola à la bidonville) e o serviço atencioso e eficiente. Excelente sítio para passar uma tarde a pôr os jornais em dia e a afiar a língua com os camaradas. O restaurante ainda não tive o prazer de o experimentar, mas é apenas uma questão de tempo e, se valer a pena, depois eu digo qualquer coisa :).

Aproveito para contar uma pequena história, enfim, em jeito de moral. No final da década de 20, o então Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, tenente Raul Andrade Peres (entretanto promovido a coronel) defendeu a demolição total deste mesmo quarteirão. Estragava as vistas do Stº António, argumentava. A ideia era criar uma praça em frente do hospital de modo a melhor honrar a dignidade do monumental edifício. O edificado do quarteirão era então qualificado de "escombros vulgares". O que nos safou foi a falta de verbas (e de quantas asneiras se terá livrado o Porto por causa da providencial falta de dinheiro para as concretizar?) que ditou logo ali a morte de tão peregrina ideia. Não vale a pena levar a mal o tenente porque aquilo era fruta da época. Aliás, devemos alguns serviços muito relevantes a este "Presidente" de Câmara, como foi o caso do desentalanço das obras da nova Avenida dos Aliados e o redesenho da Praça Carlos Alberto com a substituição do miserável guerreiro celta "Portorrão" pelo actual monumento ao soldado desconhecido da autoria de Henrique Moreira. Bom, o caso é que a demolição não avançou e hoje podemos usufruir daquele quarteirão, o qual me parece até ser uma das peças-chave na reabilitação da Baixa. Tem esta historieta um alvo bem preciso: todos aqueles que ditam com ligeireza a demolição de quarteirões como solução para se fazer cidade. Não se esqueçam do tenente!

PS: Cristina, de facto é muita massa, ou seja, já há dinheiro (isto se Lisboa não ficar com a parte de leão) para se fazer qualquer coisa pela cidade. Só espero que não haja o suficiente para financiar ideias de tenente. Mas não era isso que eu queria dizer. Só queria chamar à atenção para o facto de desde 2004 se falar na fusão dos programas RECRIA, REHABITA, RECRIPH e SOLARH num único programa: o REABILITA. Estará para breve? Mistério…

David Afonso
attalaia@gmail.com

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Nota de TAF: mais notícias sobre as massas do BEI, parece que só para 2008...