De: Rui Valente - "Um pequeno esclarecimento"
Não escrevi nada que sugerisse um grito de socorro à Galiza, nem mesmo pretendi ignorar a cooperação entre autarquias do norte de Portugal nesse processo de aproximação. Não quero sobretudo ter a presunção de apontar soluções para o nosso descalabro. O que penso é que tudo o que nos possa conduzir a uma permuta qualquer com Lisboa, à partida, estamos condenados a perder. Não por pessimismo genético dos nortenhos nem por qualquer outra inaptidão similar - que nessa ladainha eu não me deixo levar - mas porque não temos, de facto, qualquer poder, e não falo apenas do poder económico.
Repare bem que, actualmente, a única excepção ao domínio generalizado da capital (embora num âmbito específico) chama-se F. Clube do Porto, e assim mesmo, salta à vista de todos o esforço quase desesperado que a comunicação social vem fazendo para desacreditar o mais possível os êxitos do clube na pessoa do seu Presidente. Ainda ontem, o tema do programa Prós e Contras versava sobre o famigerado "sistema" do futebol nacional, e mais uma vez, nenhum clube do Norte esteve representado, mas não faltaram os representantes dos dois mais importantes clubes de Lisboa. O que, para bom entendedor, é o mesmo que dizer que os corruptos do futebol estão todos a norte da impoluta capital. Isto não é inocente, é um facto constatável! E é, no mínimo, insultuoso para todos nós nortenhos!
Reparou bem na tenacidade inusitada da Portugal Telecom a defender-se da OPA feita pela SONAE? O que não foi dito nos fóruns da TSF (quase sempre de participação inacessível para quem não vive em Lisboa) em defesa do fracasso da operação. E o mais engraçado disto tudo, é que tudo indica que agora a PT se está a preparar para aumentar os preços ao consumidor. Mas é bem feito! Porque Belmiro de Azevedo investiu muito por todo o lado, mas nunca se preocupou muito com a autonomia económica e social da sua região. Só para dar dois exemplos, o jornal "Público" e a "Rádio Nova" (que pertencem ao grupo SONAE), por exemplo, têm sede no Porto mas são dirigidos a partir de Lisboa. Isto não é desconcertante?
É por estas e por outras que me custa aceitar a teoria simplista de confinar apenas ao empresariado local a responsabilidade pioneira de desenvolver a região, porque atrás de cada um tanto pode estar um grande empresário como um gigantesco provinciano! Afinal, não é isso mesmo Belmiro de Azevedo? O que ele fez não foi pôr o seu provincianismo ao serviço da sua ambição empresarial? Sim, porque de facto ele não foi ambicioso nem arriscou nos seus negócios ligados à comunicação social, conferindo-lhes mais autonomia com uma direcção local. Preferiu jogar "pelo seguro" e apostou, como muitos outros, na capital. É que os telemóveis e os supermercados, em matéria de Poder, não são propriamente o negócio mais pertinente!
Se duvidarmos, basta contar o número de jornais, de estações de rádio, de revistas de estações e canais de TV instalados em Lisboa, para perceber o fenómeno e nos interrogarmos se o poder político (que não temos, nem sequer através da nossa autarquia) não terá dado uma ajudinha preciosa a tanta fartura...
Rui Valente