De: Rui Valente - "Um País chamado Lisboa"
Ou sou eu que começo a sintonizar-me com o que diz Cristina Santos, ou é ela que começa a perceber o que eu venho dizendo há largo tempo. Mas para o caso não interessa. O que realmente importa é que todos nós, aqui, comecemos a convergir na forma e no conteúdo, rumo ao nosso objectivo comum que é a recuperação do Porto e do Norte de Portugal, a todos os níveis.
Contrariamente a uma ilustre personalidade nacional, nunca me ouvirão dizer que "eu nunca me engano", mas por outro lado afirmo, com alguma segurança sustentada em exemplos de um passado que já começa a tornar-se remoto, que dos nossos governantes, instalados em Lisboa e virados para Lisboa em absoluta exclusividade, já nada de importante espero. Viraram-nos ostensivamente as costas e, pela minha parte que não sou propriamente do tipo masoquista, já lhes virei as minhas há muito, que apesar da sua muito ténue "expressão política", são sempre um princípio. Daí subscrever a tese de uma viragem para os nuestros hermanos galegos que, ao que tudo indica, parecem partilhar problemas e interesses idênticos aos nossos. E... porque não dizê-lo? Parecem mesmo mais nossos amigos do que estes meninos de Lisboa. Com todos os seus exageros, cada vez compreendo melhor Alberto João Jardim.
Só este facto devia constituir motivos de embaraço e de alguma vergonha à nossa classe político-partidária pelo péssimo exemplo de patriotismo que dão ao povo que os elegeu. Mas o certo é que não constitui, porque o deslumbramento pelo poder tolda-lhes a lucidez. E digam lá agora se não é este o comportamento típico dos verdadeiros provincianos. Apesar de viverem na capital, ainda abrem a boca de espanto com as luzes da ribalta que o poder lhes confere.
Aplaudo toda a iniciativa dos portuenses que contribuem, através das suas actividades profissionais, empresariais e culturais, para o desenvolvimento da nossa região, mas continuo a pensar que isso não chega. Sem apoio político, nem daqui a cem anos estaremos ressarcidos do atraso em que nos colocaram. É preciso dar um murro na mesa bem sonoro. E todos sabemos bem que o Poder não se impressiona muito com blogues, fóruns e demais iniciativas, porque lhe dá tempo de sobra para fazer (e desfazer) tranquilamente o que bem entende. E, entretanto, pouco vai mudar no nosso Porto, se nada acontecer de importante, para lá do que cada um de nós faz no seu quotidiano.
O Porto perdeu com a democracia? Bem, a democracia não derrota nada nem ninguém, apenas se pratica, com respeito pelas suas regras elementares. Senão, não presta, nem é democracia. Mas o Porto perdeu, sem dúvida nenhuma, com os maus tratos que a classe política infligiu e persiste em infligir à democracia. Impune e traiçoeiramente.
Rui Valente