De: Pedro Aroso - "«Os prédios do Siza no Chiado...»"

Submetido por taf em Sexta, 2007-01-26 17:33

«... são uma coisa medonha»: José Sá Fernandes, vereador da CML

No último congresso do Partido Trabalhista, há uma passagem do discurso de Tony Blair que gravei na minha memória. Grosso modo, foram estas as suas palavras:
"Os britânicos sabem perdoar os erros dos políticos, porque errar é humano. O que não toleram é a falta de capacidade de decisão."

O mesmo se aplica aos portugueses. De resto, creio ser este o raciocínio do Arq. Alexandre Burmester, no seu magnífico post com o título "Síndrome Sá Fernandes". Aquilo que nos deixa indignados não é ver um projecto chumbado, mas sobretudo o desprezo que a maior parte das autarquias manifesta face à angústia dos arquitectos que vivem única e exclusivamente da profissão liberal. Se uma Câmara entende que um projecto deve ser indeferido, que o faça logo. O que não é admissível é deixar as coisas arrastarem-se durante vários anos. Como diz o Alexandre, se não tomarmos decisões rápidas e mesmo urgentes, caminharemos cada vez mais para o marasmo e para o imobilismo.

Quando o Chiado ardeu, em 1988, o Eng. Nuno Abecassis, então presidente da Câmara de Lisboa, começou por anunciar, na televisão, que tinha convidado a Ordem dos Arquitectos para proceder à redacção do programa para o lançamento de um concurso, com vista à sua reconstrução. Depois, pensou melhor, e entregou todos os projectos ao Arq. Álvaro Siza, fazendo tábua rasa dos compromissos assumidos com o presidente da OA, o Arq. Nuno Teotónio Pereira.

Tal como o Marquês de Pombal em 1755, após o terramoto, Nuno Abecassis apercebeu-se que, numa situação tão dramática, tinha que ser ele a decidir, assumindo todas as responsabilidades. É de gente assim que o país precisa, como de resto o Eng. José Sócrates muito bem sabe. Aproveito esta oportunidade para prestar a minha homenagem ao Eng. Nuno Abecassis. Poucos saberão, mas foi ele que instituiu que, na Câmara de Lisboa, só sejam aceites projectos elaborados e assinados por arquitectos. Essa ordem de serviço continua em vigor.

Felizmente para os lisboetas, o Dr. Sá Fernandes nunca será presidente da Câmara da capital. Ainda bem. As suas recentes declarações acerca dos edifícios que o Arq. Álvaro Siza projectou para o Chiado não deixam dúvidas sobre o tamanho de seu cérebro.

Pedro Aroso