De: Alexandre Burmester - "Síndrome Sá Fernandes"

Submetido por taf em Quinta, 2007-01-25 18:58

Se existe alguma razão para o descrédito dos Políticos, e para o desinteresse da população pela participação política, esta é sem dúvida pela forma de governação de que todos já nos fartamos, e que todos deixamos de acreditar. Não vivemos numa Democracia só porque votamos, porque elegemos pessoas que nos são impostas pelos aparelhos partidários. Não estamos em Democracia quando para influir numa decisão temos de participar de um partido político. Continuamos sem democracia, quando na vida partidária tem que se ser cegamente fiel às suas vontades. E seguimos sem Democracia quando somos surpreendidos por decisões secretas que nos afectaram directamente.

Quem nos governa depois de eleito não é mandatado para exercer o direito de fazer o que lhe apetece sem dar satisfações. Mas infelizmente esta é a prática. A falta de transparência dos actos governativos e da gestão da coisa pública, fez inventar o clima de suspeição e em alternativa inventam-se regras e mais regras, Decretos e mais Portarias que regulamentam tudo e todos. Cada vez mais, cada vez pior escrito, cada vez mais complexas e sobrepostas.

Hoje todos sem excepção, governados e governantes, no meio desta amálgama de leis e de regras, vivemos na ilegalidade. Se formos fiscalizados, seja pela PJ, seja pelas Finanças, seja pela brigada de trânsito, podemos ter a certeza de que, com intenção ou sem ela, em alguma coisa seremos apanhados, porque algo estará fora da lei. Valesse-nos um Estado de Direito com uma Justiça desburocratizada, célere e uma classe profissional responsável e despolitizada. Mas infelizmente a nossa Justiça só porque tarda, falha.

Daqui a "Síndrome Sá Fernandes”, porque os governantes no receio de alguma Acção Judicial ou de alguma Previdência Cautelar, teê cada vez mais medo de tomar decisões. Sabe também qualquer político, ou funcionário público profissional, que a melhor maneira de gerir a carreira é não se “comprometer”. A conclusão está à vista, cada vez se tomam menos decisões, cada vez tudo fica cada vez mais na mesma, isto é, cada vez fica pior. Ou se toma uma nova forma de fazer Política, tornando as decisões transparentes e acessíveis, e se criam formas de participação directas de diálogo e de decisão com as populações, o que com as novas tecnologias se torna fácil e directo, ou na cada vez maior necessidade de se tomar decisões rápidas e mesmo urgentes, caminharemos cada vez mais para o marasmo e para o imobilismo.

Alexandre Burmester