De: Rui Valente - "Avenida Rodrigues de Freitas, para quando?"
Em primeiro lugar, quero prestar a minha explicação (um tanto tardia) pública ao Arq. Luís Sousa e demais colaboradores pela minha impossibilidade em participar fisicamente nas reuniões das "Jornadas de Reabilitação". Questões de força maior impedem-me de prestar a minha colaboração mais activa no referido evento, ao qual desejo desde já o maior sucesso. Manter-me-ei no entanto atento ao que se for passando e continuarei, sempre que possível, a participar aqui na "Baixa" com o meu modesto contributo.
E, aproveitando a deixa, gostaria de falar um pouco sobre uma artéria da nossa cidade, que já foi lindíssima mas começa agora também a entrar num manifesto processo de degradação, que é a Avenida Rodrigues de Freitas e que por acaso até tem árvores (adornos incómodos nos novos tempos)!
Há dias, decidi percorrer a pé e com atenção aquela Avenida e fui-me apercebendo que o comércio que por lá começa a florescer acompanha na forma e no conteúdo a decadência dos edifícios envolventes. Estabelecimentos de artigos em segunda mão miseráveis, cafés mal amanhados, lojas de mobiliário entre os tradicionais marmoristas da zona (o Cemitério do Prado de Repouso fica muito próximo), tudo ali se mistura num mau gosto pungente a condizer com o abandono a que a própria avenida tem sido votada. E é pena, porque, apesar de envelhecida, a Avenida Rodrigues de Freitas ainda é das poucas que vai mantendo alguma dignidade e coerência na arquitectura e que por esse motivo talvez tornasse compensadora uma intervenção urgente na sua restauração. Se entretanto nada for feito, mais se acentuará a fuga da habitantes do centro do Porto para a periferia, como é óbvio.
Quando, por curiosidade mórbida parei defronte de uma dessas casas com o típico painel de alvará para construção (ou recuperação, não sei bem) datado do ano de 2003 e li umas palavrinhas a avisar-nos que "aguardava" a respectiva autorização camarária, pensei cá para mim: quantos mais anos ficará aqui esta vergonha? Decerto alguém antes de mim falou no assunto, mas não se perde nada em insistir, antes de começarmos a ver nascer como cogumelos os mamarrachos do costume, de cuja responsabilidade futura nunca saberemos o nome (como convém aos videirinhos).
Rui Valente