De: Pedro Lessa - "Resposta ao Pedro Aroso"

Submetido por taf em Quinta, 2006-12-14 14:27

Estimado Pedro Aroso

É sempre um prazer conversar consigo (apesar da distância online), mas permita-me então, tentar explicar o meu ponto de vista.

Sempre fui crítico dos ditos calhambeques (força de expressão, claro), não pelo evento em si, aliás aprecio o desporto, mas por todas as circunstâncias em torno dele. Como sabe, eu sou um fervoroso adepto da mudança, tenho para mim que uma cidade deve estar em constante mutação e a fervilhar de actividade, demonstrando assim animação e plena vitalidade. Uma cidade nunca se pode considerar perfeita e funcional, a todos os níveis, e por isso deve estar sempre em evolução. Dou sempre o exemplo de Barcelona, tinham a cidade que tinham antes dos Jogos e mesmo assim decidiram que era preciso aproveitar o evento para a melhorar.

O evento dos Grandes Prémios serviu precisamente para isso, para tentar melhorar aquela zona. O que eu não posso concordar é que, com tantas necessidades existentes na nossa cidade, se opte por este tipo de investimento. A cidade está obsoleta em termos de funcionamento, é necessário fazer tanta coisa que já devia estar feita há décadas e andamos a brincar aos carrinhos. Com um presidente que se arvora a dizer que as suas preocupações são o social, o corte de subsídios para os poucos (como ele diz) que gostam de teatro não sejam pagos por todos nós, etc etc, não consigo entender a incoerência numa situação perfeitamente supérflua. Seria interessante sabermos quantos de todos nós que pagamos (como ele diz) estaremos interessados nesta atribuição de subsídios (eventualmente a percentagem será bem menor comparada com o teatro).

Bem sei que me pode dizer que o investimento não foi da Câmara mas da Metro (isto, ainda por confirmar), mas eu gostaria de ver a aplicação que o presidente da câmara teve para conseguir esta borla noutras necessidades urgentes da cidade.

Eu que vivo na Baixa, trabalho no Centro Histórico e percorro-o pelo seu interior a pé todos os dias choca-me ver a miséria, o abandono, a sujidade, a insegurança típicas de 3º mundo que muita gente teima em esquecer e a esconder e no entanto gastam-se milhões supostamente em actividades que (como ele diz) vão pôr o Porto na boca do mundo e irão atrair o turismo. Para quê, para virem ver a miséria que por aqui grassa? Recebo-os aqui todos os dias e percebo o ar incrédulo quando olham à sua volta. A isto chamo completo novo-riquismo. Puro e simples. De facto já não há paciência para os discursos bacocos desta Câmara e seus seguidores.

Sempre a considerá-lo, envio-lhe um abraço.
Pedro Santos Lessa.
pedrolessa@a2mais.com

P.S. - Quem ouve o discurso do presidente da Câmara percebe que, quanto ao Parque, o Ambiente será para preservar sempre, o que posso concordar, e custa-me, portanto, abrir uma excepção num fim de semana de 2 em 2 anos. Quanto às pessoas que lá vão, convido-o a, antes de ir para a bancada, passar pela envolvente para ouvir os comentários das pessoas. A mim aconteceu-me e portanto sei bem o que ouvi.