De: António Alves - "Discutir o futuro"

Submetido por taf em Terça, 2006-11-14 18:40

Discute-se política. Ainda bem!

Sobre Rui Rio e a sua actuação na autarquia está tudo dito e não vale a pena continuar a “valorizar o invalorizável”. Como não perspectivo qualquer revolução levada a cabo pelo povo e/ou pelas elites, resta-nos esperar que passem os 3 anos restantes ou, em alternativa, esperar que a divina providência nos liberte deste presidente de câmara. Considerando a actual direcção camarária coisa do passado (e do mais retrógrado), encarreguemo-nos do futuro começando já a discutir o próximo executivo camarário.

Como por várias vezes já aqui transmiti, sou muito pouco crente no actual sistema partidário. Não me revejo no modo de actuação dos partidos em geral e particularmente nos chamados partidos do regime. Facilmente concluo que não me encontro sozinho nesta posição. Estou, aliás, muito bem acompanhado. Olhando para o actual quadro dirigente dos dois maiores partidos no Porto só se consegue ver o deserto. Não consigo confiar minimamente em qualquer das personagens que se perfilam na primeira linha da luta pelo poder. Provavelmente a culpa é minha e sou um céptico. Chegado aqui, estou plenamente convicto que na ausência duma inversão de práticas e mudança de actores partidários, a solução para o Porto terá que passar obrigatoriamente pela sociedade civil, sob pena da cidade fenecer definitivamente sob o peso duma galopante falta de competitividade, tanto nacional como internacional. Gostaria de ver um conjunto de cidadãos do Porto anunciando a intenção de tomar as rédeas do governo da cidade, agrupando vontades e energias, dando início, desse modo, a uma nova era de esperança e entusiasmo. O Porto deve isso a si mesmo e pode dar um exemplo ao País, retomando uma tradição que começou a definhar depois da cidade se ter entusiasticamente identificado com a candidatura de Humberto Delgado.

Como dizem os gurus da gestão, as “ideias são de borla”. E como são gratuitas e eu tenho algumas, maioritariamente no campo dos transportes públicos colectivos, área onde me sinto mais seguro, que na minha opinião deveriam ser defendidas e aplicadas pelo próximo executivo camarário, passarei a enunciá-las.

Transportes Públicos:

  • - Deixar cair de vez a linha de metro da Boavista e projectar uma linha que ligue os Aliados a Matosinhos com o seguinte percurso: Aliados, Cordoaria - Hospital Santo António, Palácio de Cristal - Miguel Bombarda, Galiza, Bom Sucesso - Gólgota (Faculdade de Ciências), Lordelo, Pasteleira - Serralves, Praça do Império, seguindo a partir daqui pela futura via Nuno Álvares em direcção à Avenida da Boavista - Castelo do Queijo e daí ligar-se a Matosinhos Sul. Esta linha deve ser construída obrigatoriamente em túnel até Lordelo, podendo a partir daí circular à superfície sempre que possível. Como já repararam, este traçado serve zonas com grande potencial de utilização e captação de largos milhares de passageiros: o Hospital de Santo António, as escolas da Praça da Galiza, a zona do Bom Sucesso e as Faculdades do Campo Alegre, as zonas residenciais do Campo Alegre e os muitos bairros sociais de Lordelo e Pasteleira; toda a zona da Foz e respectivas praias, a que se somam o Castelo do Queijo, o Parque da Cidade e Matosinhos Sul. Esta é a verdadeira linha estrutural de todo o sector ocidental portuense. Será certamente de construção cara, mas será uma linha projectada para o futuro. Será preferível esperar mais uns anos pela sua concretização do que gastar ingloriamente dinheiro numa linha – a da Boavista - que nada acrescentará ao sistema. Neste projecto o Porto deverá ser intransigente com o poder central na reivindicação de financiamento. Se existe financiamento para construir uma linha, em Lisboa, que se dirige a um aeroporto que pretendem fechar dentro de poucos anos, terá que existir obrigatoriamente financiamento para um projecto tão fundamental como este. Um aparte para entar na discussão do momento: é verdade Professor Rio Fernandes, é nestas questões que o PS Porto perde cada vez mais credibilidade na cidade e na região. Todos sabemos que o PSD local está a ser oportunista e hipócrita quando critica o governo devido à falta de investimento deste na região, mas também é verdade que este governo discrimina negativamente a região e não faltam exemplos disso. Da parte do PS Porto assiste-se a uma gritante incapacidade de reagir e até, em último caso, justificar convincentemente as acções do governo às gentes do Porto.
    A construção deste novo canal não deve nunca sobrepor-se às linhas de Gondomar e segunda de Gaia, que neste momento assumem a prioridade máxima. Na Boavista deve ser reintroduzido o eléctrico, com material circulante moderno e funcional, o mais rapidamente possível. No Castelo do Queijo estes eléctricos bifurcarão para a Foz e para Matosinhos, onde a partir da Estação de Matosinhos Sul utilizarão a mesma via do Metro até ao Senhor de Matosinhos.
  • - Reconversão da antiga antiga Linha Ferroviária da Alfândega para eléctricos rápidos, ligando a zona histórica da cidade àquele que será o maior pólo multimodal de transportes da cidade (a Estação de Campanhã), acrescentando-lhe mais este modo de transporte aos que já lá existem (Metro, Comboio, Autocarros da STCP), e aos que lá existirão no futuro (Estação Rodoviária e, segundo o governo, a Estação TGV). O terminal dos eléctricos ficaria do lado nascente da Estação, em frente à Moagem Ceres. Esta nova linha de eléctrico ligar-se-ia na Alfândega à Baixa, através de Mouzinho da Silveira, como defende o caro Professor Rio Fernandes, e à Foz-Matosinhos através da actual Linha da Marginal. É inegável o interesse turístico que esta linha comporta. A sua construção servirá de alavanca à urgente recuperação urbanística e paisagística de toda a escarpa sobranceira ao Douro desde as Fontainhas até à Quinta da China.
  • - Reintrodução do transporte suburbano de passageiros na Linha de Leixões, servindo esta como um verdadeiro anel estruturante à rede de metro do Porto.

Urbanismo:

  • - Na questão da recuperação e repovoamento da Baixa, introduzo uma ideia que poderá ser polémica. O repovoamento da Baixa deve basear-se também, e principalmente, em muita da classe média baixa que hoje vive nos muitos bairros sociais da cidade. Estou convicto que muitas destas famílias não enjeitariam a oportunidade de viver em apartamentos inseridos em prédios mais pequenos, com 3,4 ou 5 condóminos no máximo, libertando-se de bom grado da massificação e da falta de qualidade habitacional dos bairros sociais se lhes derem tal oportunidade.
    A autarquia deveria comprar e recuperar ruas inteiras na Baixa e noutras zonas mais centrais da cidade que se encontram em acentuado processo de abandono e degradação urbana. Depois de devidamente recuperadas essas casas seriam propostas aos residentes dos vários bairros sociais e restantes munícipes que se mostrarem interessados, sob a forma de venda ou aluguer a preços acessíveis e justos. Como financiar toda esta operação? Além dos inevitáveis e necessários fundos públicos, esta operação seria financiada pela posterior venda dos terrenos onde actualmente se encontram alguns bairros sociais. Julgo que esta operação, se bem planeada e estruturada, não terá dificuldades em cativar investimento privado atraído pelas mais-valias que poderá alcançar com a reurbanização dos terrenos entretanto deixados vagos nos bairros sociais. Alguns têm localização deveras privilegiada e como tal renderiam bom dinheiro.
    Poderá esta ideia ser inexequível, mas merece certamente ser discutida e a partir dela, quem sabe, caminhar-se para novas e inovadoras soluções.
  • - Zona Oriental: executar um plano de recuperação e requalificação de toda a área que vai da Central Eléctrica do Freixo / Fábrica Mário Navega até ao Matadouro / Mercado Abastecedor. Devendo o Mercado Abastecedor ser deslocalizado para zona mais adequada dentro da área metropolitana. Nesta zona seriam construídos bairros residenciais de qualidade ancorados em volta dum equipamento de que a cidade carece bastante: um grande pavilhão multiusos de qualidade internacional. Estas novas urbanizações poderiam ser ligadas à gare de Campanhã e resto da cidade através do prolongamento da linha de eléctrico que atrás defendi para a antiga Linha Alfândega.

Cultura:

  • Apenas uma sugestão: se Guimarães vier a ser nomeada capital europeia da cultura, abre-se uma segunda oportunidade para o sector cultural do Porto. Afinal Guimarães fica apenas a 50 km e o Porto deve aproveitar oportunidade de explorar as dinâmicas que inevitavelmente serão criadas e fazer-lhe concorrência, especialmente na captação de potenciais visitantes internacionais. O Porto tem os equipamentos hoteleiros e culturais necessários para isso. Precisará, obviamente, dum executivo camarário com melhor sensibilidade para estas questões. Julgo que Braga – e muito bem - não ficará a dormir na forma, agora que dispõem de mais um magnífico equipamento, o Teatro Circo, recentemente recuperado pela sua Edilidade.

É este o meu pequeno contributo para começar a discutir o futuro. São apenas ideias e são de borla. Se alguém as quiser aproveitar, estão à disposição. Tenho outras, mas essas são de âmbito mais metropolitano e regional. A contribuição com ideias para o Porto é afinal o que está na génese deste blogue.

António Alves