De: Cristina Santos - "Não é a Cultura, é património cultural"

Submetido por taf em Terça, 2006-10-17 22:59

Não está aqui em causa se o Rivoli é ou não um equipamento cultural. O que está aqui em causa são os valores sociais da Cidade.

Não se reabilita uma Cidade destruindo os valores que a mantêm unida, isso é básico, acontece até com as pessoas, quando se pretende reabilitar uma pessoa – incute-se a necessidade de ela recuperar os valores sociais perdidos algures na história da sua evolução.

Uma cidade sem tradições e valores de base é uma cidade plástica, onde ninguém se identifica. Não estou aqui a defender a Cultura, já por diversas vezes disse que há mais casas de cultura do que artistas, estou a defender um valor da Cidade, algo que todos conhecem, algo que deve ser promovido como um privilégio e não um encargo.

Não se pode chamar as pessoas para viver no Porto evocando a história passada, o carisma, e depois vender em hasta pública aquilo que exactamente representa esses valores que são os únicos que restam à cidade.

O Rivoli deve ser iluminado por dentro e por fora, o povo do Porto tem que recuperar a auto-estima e não se ganha auto-estima desta forma. Nunca um autarca pode dizer ao povo que os seus valores são um encargo muito alto, o que resta ao Porto é a memória, é impossível passar por cima da história e construir uma nova cidade, ignorando o esforço dos que nos precederam. O Rivoli faz parte dos nossos tempos áureos, dá-lo à exploração significa que batemos mesmo no fundo.

Não está aqui em causa se dali vai resultar um melhor serviço público, trata-se da ideia transmitida, a ideia de que vale a pena conservar o Porto, manter uma réstia de esperança. Ora se o executivo não tem esperança de obter retorno no Rivoli gerindo-o directamente, como nos justifica que a Baixa vai mudar, vai estar repovoada, como é possível, se nem a CMP dá mostras de acreditar.

Será que ninguém percebe o entusiasmo da Cidade quando se diz que vamos recuperar o Bolhão, ou outra coisa que nos soe a passado, a tempo áureos? Não percebem o que significa voltar à Baixa? Se não percebem isso, também não se espera que percebam que os valores humanos não são vendíveis, nem sequer negociáveis.

Quanto ao comentário de António Conceição, devo dizer-lhe que no tempo em que o Porto construía por si, não tinha com certeza tamanha carga fiscal sobre os ombros.
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Cristina Santos