De: José Ferraz Alves - "Chegou a vez do encerramento da Linha do Douro?"
Sei que estou a radicalizar, mas é para todos percebamos melhor o que sentem aqueles que vivem à volta das Linhas Ferroviárias do Douro e Trás-os-Montes, nomeadamente do Tua, Sabor, Tâmega.
Temos os suspeitos do costume e já vista estratégia de comunicação: segundo informação desta semana da REFER “… na Linha do Douro, ao km 142,950, está em curso a empreitada que permitirá a reabertura em segurança do troço Tua-Pocinho, sendo que a sua componente de tratamento geotécnico do talude adjacente é complexa, aguardando-se um melhor planeamento da execução, face à solução de projecto já definida, o que permitirá a oportuna comunicação da data prevista para a reabertura.” Segundo dados comunicados pela CP, cada um dos comboios da zona da Linha do Douro transporta diariamente uma média de 25 clientes, tendo-se agora colocado à disposição dos utentes autocarros e táxis enquanto a circulação ferroviária estiver interrompida.
Diria, que neste momento essa média até é de zero clientes/dia, dado que não há linha a funcionar. Porque é a oferta que cria a procura, numa primeira fase. Começo a ter receio de que, por tanto se repetirem estes tipo de argumentos, qualquer dia acreditamos que é mesmo assim e que estes encerramentos das linhas ferroviárias são uma inevitabilidade e correcta decisão de gestão e política.
À devida escala de quem defende, tal como Pedro Passos Coelho, que a única linha ferroviária que faz sentido é a de passageiros, à bitola ibérica, entre Lisboa e Madrid, por TGV, que é mais um tique de centralismo, a linha do Douro está para os decisores lisboetas à mesma escala que a do Tua está para os senhores decisores da CCDRN do Porto, que não a conseguem ver. Lisboa também não vê bem o Douro, está mais virada para as praias do Sul e para chegar depressa a outras grandes metrópoles internacionais. Eu diria que Lisboa vê o Porto da mesma forma que a generalidade das elites portuenses da Foz sentem o centro histórico do Porto. Não faz parte do caminho para o aeroporto ou para a A1 para o Sul. Também percebo bem porque as pessoas de Douro e Trás-os-Montes se queixam de falta de apoio das gentes do Porto. Temos replicado o que nos queixamos dos outros.
À CCDRN e ao seu Presidente, Dr. Carlos Lage, que muito meritoriamente têm assumido a defesa do Norte e de um processo de regionalização, também entendo que se deve agora pedir algo mais para além de planos, seminários, protocolos. A vida das pessoas faz-se de coisas mais concretas, de causas, de pequena decisões que afectam o seu dia a dia. Como embrião do futuro Governo Regional do Norte, com sede em Vila Real, deveria já a CCDRN ter reunido com a CP e a Refer para exigir a imediata reabertura e o investimento efectivo nessa linha, pedindo consequências efectivas para as carreiras de maus gestores que não sigam as linhas de orientação políticas de um Governo que elegemos. Mas quando me refiro à CCDRN, não deixo de incluir a necessidade das Quintas do Vinho do Porto e dos operadores turísticos da região, como a Douro Azul, também se empenharem na efectiva defesa do Douro e Trás-os-Montes.
O único lobbie a que os decisores políticos devem dar ouvidos é o dos seus eleitores e de quem paga os impostos. O dinheiro público é antes de tudo dinheiro privado que nos é retirado a todos para o bem comum. Esse interesse público deve estar precisamente na busca da coesão e da defesa dos mais fracos, neste caso do interior do país. O que interessa tomar decisões em favor dos mais fortes? DINHEIRO PÚBLICO para ligar Lisboa e Madrid como prioridade? Mas o que é isto e que incapacidade de todos nós para lhe pormos um ponto final? Só por haver um cheirinho de fim de crise é razão para os MESMOS voltaram com as MESMAS lógicas de funcionamento perante o bem público? Se as empresas de construção civil estão em dificuldades financeiras, arranjem rentáveis pretextos para lhes despejar dinheiro em cima, como a REABILITAÇÃO DOS CENTROS URBANOS, as LINHAS FERROVIÁRIAS EM BITOLA EUROPEIA PARA MERCADORIAS A LIGAR OS PORTOS NACIONAIS À EUROPA e REABILITAR todas as ainda sobreviventes LINHAS FERROVIÁRIAS DO INTERIOR.
PS: Caro Augusto Küttner de Magalhães
Agradeço e transmiti ao João Costa e ao Rafael Magalhães as palavras que lhes deixou. Realço e agradeço, sobretudo, o ter dispendido do seu tempo para transmitir estas palavras positivas, de incentivo, que são a forma de termos mais jovens comprometidos com a vida cívica.
Um abraço
José Ferraz Alves
Rede Norte
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Nota de TAF: Caro JFA, julgo que a descrição da posição de Pedro Passos Coelho sobre o TGV não está correcta. A defesa que eu o ouvi fazer foi a de que se respeitem os acordos internacionais que, bem ou mal, tenham sido efectivamente assinados. Sendo esse o caso do TGV Lisboa-Madrid, então paciência, agora é tarde demais. Quanto às outras linhas ele defende, tal como eu, que comboios tipo pendular são perfeitamente suficientes e incomparavelmente mais baratos.