De: Paula Morais - "Um programa funcional para o Rosa Mota"

Submetido por taf em Sexta, 2006-07-21 00:52

Caros participantes

A propósito dos Aliados fiz em tempos aqui referência àquele que considero ser um factor fundamental a todo e qualquer processo de revitalização urbana: as ocupações, ou utilizações, dos espaços edificados. Pois bem, tendo também já aqui expressado por algumas vezes a minha opinião de que os frutos da participação e discussão pública sobre os assuntos da Cidade são sempre benéficos para a Urbe, aproveito então a recente notícia sobre o futuro do Pavilhão Rosa Mota para lançar um repto aos participantes deste excelente espaço de debate público que é “A Baixa do Porto”: encontrar em conjunto uma utilização para esta notável obra de arquitectura.

A título de incentivo para o debate, devo dizer desde já que discordo da ideia entretanto apontada de destinar o Rosa Mota a um Pavilhão Multiusos, ainda que tenha sido essa a sua função (de forma espontânea) nos últimos tempos. A minha principal justificação para esta discordância é desde logo a questão dos custos (quer de construção, neste caso reabilitação e readaptação, quer de manutenção) que um pavilhão deste tipo comporta. Por não ter uma utilização direccionada ou específica, toda a estrutura edificada deverá então ser preparada para receber as mais diversas ocupações – espectáculos musicais, desportivos, feiras, exposições, etc. Por sua vez, cada uma dessas possíveis ocupações comporta requisitos específicos e não raramente opostos, de iluminação, acústica, térmicos, entre outros. Deste modo os custos, quer de instalação, quer depois de manutenção, são então necessariamente reflexo de tal diversidade e complexidade, ou seja, elevados.

Por outro lado, por se implantar num espaço cuja principal característica é, na minha opinião, a excelente aproximação da Cidade com a Natureza (os Jardins do Palácio de Cristal, com magníficos exemplares de “património verde”), entendo também que as futuras utilizações do Rosa Mota, ao contrário do que já muitas vezes sucedeu com arraiais e concertos de “Queimas das Fitas”, não devem colocar em risco nem oferecer perigos a tal património.

Por estas razões entendo que a utilização a dar a este espaço deve ser direccionada e especializada, bem como deve apresentar-se ambientalmente compatível com as características dos espaços verdes que o envolvem. A minha sugestão é a seguinte: da mesma forma que a cidade já possui um edifício direccionado especificamente para a Música, e que, como se pode comprovar, também por uma notícia recente, se mostra perfeitamente capaz de responder às necessidades nesta área, porque não ter um edifício especializado em Livros, neste caso, uma Casa do Livro? Por possuir as condições de iluminação que um espaço destinado a leitura requer, bem como uma localização central, estar dotado de um parque de estacionamento e possuir uma envolvente já consolidada, com alguns equipamentos de apoio já instalados (como a Biblioteca Municipal Almeida Garrett, mais dirigida a um público juvenil, e o auditório que a acompanha), as obras a realizar não comportariam custos tão elevados. Por outro lado, poder-se-ia aproveitar o excelente legado de livros que a Biblioteca Pública Municipal do Porto (localizada em São Lázaro) possui – um dos mais completos do País –, e organizar, por exemplo, bibliotecas periódicas especializadas: os livros disponibilizados para consulta no Pavilhão seriam organizados tematicamente de acordo com períodos temporais pré-definidos e durante todo o ano (com horários alargados e extensíveis a Domingos e Feriados); por exemplo, um mês dedicado a livros de História, outro mês dedicado a livros de Arte, outro a livros científicos, etc. O espaço de leitura poderia também ser acompanhado com espaços relacionados com os Livros, tais como espaços para apresentação e lançamento de obras literárias, espaços para exposições, espaços para cibernautas, entre outros.

Entendo ainda que uma ocupação deste género, pela localização e acessibilidade que possuí, traria igualmente benefícios à escala metropolitana, uma vez que poderiam ser realizadas parcerias e redes de cooperação entre diferentes bibliotecas da região (bibliotecas públicas municipais, bibliotecas de universidades e outros estabelecimentos de ensino, de entidades privadas, etc).

Paula Morais
Arquitecta

PS – Já agora, sobre a importância da iniciativa privada na gestão municipal, deixo aqui o meu habitual exemplo: os BID’s de algumas cidades norte-americanas, que, curiosamente, tiveram origem em questões de limpeza do espaço público.