De: Manuela Monteiro - "A Filipa, as árvores e o resto"
Fui professora da Escola Filipa de Vilhena durante 20 anos e desde o primeiro ano de leccionação que ouço da necessidade, sempre urgente, de fazer obras de fundo na escola. O edifício é antigo, a falta de espaço muito grave. Entre muitas outras situações registe-se, por exemplo, a inexistência de uma sala de convívio para os alunos já para não falar de outras necessidades como, por exemplo, gabinetes de trabalho, uma biblioteca compatível com a dimensão da escola, espaços de atendimento dos encarregados de educação com condições dignas para quem atende e é atendido, espaço para desenvolver e expor projectos, etc. Isto para não falar na falta aflitiva de casas de banho para os alunos. As obras anunciadas respondem a uma necessidade sentida pelo menos há 20 anos. Por isso, as reservas que se põem parecem-me desajustadas. Quais são as questões que se colocam?
1 – Diz-se: "não se deve apostar na construção porque há escolas a fechar por falta de ocupação".
Ora, a cidade é um organismo vivo. As estações de metro junto ao Carolina Michaelis e ao Alexandre Herculano trouxeram alunos da periferia libertando as escolas sobrelotadas das várias áreas suburbanas. Há, portanto, mudanças no afluxo de alunos às escolas da cidade. Mas há outra questão: a Filipa, por falta de espaço, recusa a matrícula de muitos alunos comprometendo a vontade de pais e dos alunos que a pretendem frequentar. Por outro lado, o alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos vai ter como consequência maior procura, logo, necessidade de mais espaço.
2 - Diz-se: é necessário face à obra eminente “corrigir mais um ataque ao ambiente”.
Acho que a questão do ambiente serve para tudo. Acho que em nome do ambiente já se desenvolveram campanhas que, a terem tido consequências práticas, teriam constituído um verdadeiro desastre. Quando surgiu a proposta de construção do Museu de Arte Moderna nos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa multiplicaram-se manifestos e protestos contra o abate das árvores no local onde seria construído o edifício. Felizmente, o museu foi construído! O mesmo se passou com Serralves: as árvores a abater e a horta justificavam a suspensão da construção do Museu de Arte Contemporânea. Felizmente, a obra prosseguiu e o museu está aí!
Recentemente, o abate de alguns plátanos no Marquês para se construir a estação do metro serviu para os mais acalorados protestos. Na luta pelos plátanos estavam estimáveis amigos que colocavam a questão em termos verdadeiramente apocalípticos. A estação está lá e o jardim está muito melhor que antes.
Quem se lembra destas “lutas”? Quem as reivindica agora? Quem trocaria as árvores abatidas pelas obras que existem hoje? Acho que a causa do ambiente não se pode perder e desgastar neste tipo de reacções que tocam a ortodoxia paralisante. Pelo que tenho sabido, estas obras são projectadas com a colaboração de arquitectos paisagistas que só cortam as árvores indispensáveis à construção e as que estão secas. Sei que em obras já feitas as árvores saudáveis são transplantadas e até são preservadas as árvores com valor afectivo para a comunidade escolar. Neste tipo de discussão talvez fosse útil, para além de analisar as plantas das obras, ouvir os autores dos projectos e, então, formular uma opinião fundamentada.
Manuela Matos Monteiro