De: António Alves - "Vigo e TGV's, mais uma vez"
Aproveitando esta nova onda "TGV" (deviamos estar a falar em rede ferroviária de altas prestações tal como os espanhois, cujas actuais elites são muito mais inteligentes que as portuguesas) aproveito para republicar algumas ideias minhas, aqui já publicadas há mais de dois meses.
A mim parece-me, na minha modesta e certamente irrelevante opinião (porque pelo que por aqui se continua a escrever, parece-me que ninguém me lê ou me leva a sério :->) que muito boa gente caiu na casca de banana que lhes foi diligentemente estendida com a Linha Aveiro-Salamanca. Na ânsia de inviabilizar a Ota (objectivo meritório) muitos caíram no erro de diabolizar o traçado de "TGV" em T deitado. É verdade que o traçado em T deitado valoriza a opção Ota; mas também é verdade que esse traçado é o mais racional tendo em conta a distribuição populacional portuguesa. Como as elites portuguesas, e particularmente as nortenhas, são bastante desinformadas e pouco sensíveis às questões ferroviárias, o raciocínio foi: sacrifica-se o "TGV" em defesa do aeroporto do Porto. Erro crasso. Devia-se ter separado as questões.
O umbiguismo cego das elites lisboetas, e o interesse espanhol em valorizar Badajoz, agradeceram e imediatamente inventaram aquela profusão espantosa de linhas em pi deitado ainda com uma perninha extra pelo Alentejo abaixo até ao Algarve. Pelo andar da carruagem, o tão prolífero pi será definitivamente reduzido (a falta de recursos será sempre uma boa desculpa) a um belo e escorreito L - de Lisboa, claro está. A opção Ota mantém-se, obviamente. Isto é, nós cá em cima ficamos a ver navios, ou aviões, ou comboios, dependendo do gosto: não evitamos a Ota e não teremos uma ligação ferroviária capaz à Europa. Resta-nos ir por Vigo. Espero sinceramente estar enganado. Mas não creio.
Atente-se no mapa abaixo:
- - a verde: o percurso por Vigo;
- - a preto: o T deitado;
- - a azul: pelo L de Lisboa; reparem como atravessa um belo deserto: fica limitada a captar passageiros na região de Lisboa; só um aficionado viajará do Porto até Évora para depois voltar a subir para norte em direcção a Madrid.
Neste segundo mapa podemos ver (a verde) aquilo que, mais que provavelmente, será construído em Portugal e o mapa de linhas de prestações elevadas do Plano Estratégico de Infra-estruturas Espanhol. Facilmente se verifica que a única ligação à Europa que nos restará será por Vigo. A menos que se reaproveite a Linha do Douro.
A Linha Porto-Vigo, que no fundo será a requalificação da Linha do Minho até Braga, e um novo traçado a partir daí, pode ser facilmente ligada ao aeroporto através da Linha de Leixões a partir de Ermesinde. Aqueles que desvalorizam esta linha com o argumento que não prevê uma ligação ao aeroporto desconhecem em absoluto a rede ferroviária envolvente ao Grande Porto. Essa ligação pode ser facilmente executada a baixo custo e os comboios poderão circular directamente entre o Aeroporto e Vigo. É uma espécie de Portela + 1. Primeiro utiliza-se o que já temos; só depois é que se parte para coisas totalmente novas. Prioritário é garantir a construção da nova via que ligará Braga a Valença/Fronteira.
Para o transporte de mercadorias em direcção à Europa o "TGV" é totalmente irrelevante. Questão importantíssima e imprescindível é a mudança de bitola: porque ligações ferroviárias a Espanha e Europa já temos mais do que suficientes; estão é na bitola errada.
A capa do Expresso desta semana é exemplificativa do logro e da ignorância que campeiam em tudo o que habitualmente é chamado de "TGV". Qualquer informado, que tivesse passado os olhos pelo PEIT espanhol, já sabia há anos que os espanhois não farão nenhuma ligação de alta velocidade a Portugal. Eles bem lhe chamam rede de "altas prestaciones". Para bom entendedor...
António Alves