De: José Silva - "O que faz falta é visitar Vigo"
Caro António Alves
Com todo o respeito, o seu comentário contém precisamente os lugares comuns que infelizmente abundam nos poucos que reflectem sobre o Norte. Continuo a afirmar que substituir lisboetas por galegos não é a solução. O natural aprofundamento das relações económicas e sociais entre o Norte e a Galiza, por si só, não trará qualquer desenvolvimento. Repare:
- - Se a AMVigo fosse como a do Porto, isto é, incluir zonas não urbanas a norte da Maia ou a sul de Gaia, teria também mais população;
- - O que o Porto tem para oferecer eles também lá têm: Santiago é património mundial; têm universidades e clubes de futebol;
- - O mercado galego são 2 milhões; o de Madrid são 5 milhões e são mais ricos;
Repare agora nas nossas fragilidades:
- - Porto não consegue segurar a gestão do Metro;
- - Antigos anti-regionalistas fazem petição para que a gestão do aeroporto do Porto pela ANA seja atribuído à JMPorto e não ao futuro dono da OTA;
- - Porto de Leixões tutelado por Lisboa;
- - Isto é, não gerimos sequer as nossas infra-estruturas de comunicação, mas já se pensa em gestão conjunta do aeroporto e Porto de Leixões com galegos; ou seja, ainda não mandamos nada e já estamos a partilhar a gestão com terceiros...
- - Galegos com anos de experiência em administração regional; por cá a JMPorto começa a dar uns passos; os autarcas não se fundem mas criam empresas municipais para receber mais uns salariozitos;
- - A UPorto diz que quer apostar na economia do Mar; os galegos já a praticam há muitos anos, desde Pescanovas até à construção de porta-aviões;
- - Lá existe um Ortega que é top 50 da Forbes; cá, temos um Belmiro top 500 da Forbes que foi anti-regionalista até perder dezenas de milhões de euros na OPA bloqueada pelos lisboetas;
- - A Zara não existia quando se começou a falar da necessidade de upgrade do vestuário e têxtil do Norte; hoje a Zara é uma multinacional que deixando de subcontratar no Norte vai gerar mais desempregados no vale do Ave...
- - Há 20 anos havia 0 mainframes IBM em Vigo e vários no Porto; hoje é ao contrário. Os bancos galegos (Caixa Nova, Caixa Galicia, etc) estão mesmo lá sedeados, recrutam pessoal qualificado e animam a economia local, como cá acontecia há 30 anos;
- - Caso a linha Porto-Vigo tenha sucesso, isto é seja rápida e relativamente barata, irá com certeza ser mais um eixo de drenagem económica do Norte: com a intermodalidade do porto de Vigo superior e mais competitiva do que a de Leixões, este vai perder tráfego para o galego. Por outro lado, à semelhança do que se passa com os operários da contrução civil actualmente, Vigo irá drenar a população jovem de Braga, tornando-a de certo modo numa cidade dormitório.
Tudo isto indica que as elites, clases médias e cidadãos comuns de lá são mais competitivos do que os de cá. Assim sendo, à medida que se intensifique a inevitável integração económica da euro-região irá repetir-se o que existiu com a bipolaridade nacional (Lisboa/Porto) durante o século XX: Ganha o mais forte. O problema não é medo. O problema é ignorância. Nós estamos muito atrás em termos de compreensão/domínio do processo de desenvolvimento. Sub-estimamos os desafios do futuro. Só aprendemos quando nos sai do bolso. Aconteceu em direcção a sul e provavelmente acontecerá em direcção a norte.
Um amigo meu, há cerca de 10 anos, numa 2ª feira, disse-me: «Este fim de semana estive na Galiza. E sabes, aqueles que dizem que o Porto ou o Norte podem liderar o noroeste peninsular, já não vão a Vigo há muitos, muitos anos».
José Silva