De: António Alves - "Notas breves"

Submetido por taf em Domingo, 2007-04-15 14:46

Rui Rio tem gerido bem o confronto com o governo central na questão do modelo de gestão da Metro do Porto. Tem mostrado capacidade de liderança e imposto ao governo a vontade da Região em ter uma voz determinante no desenvolvimento deste importante projecto que não pode ser gerido à revelia dos seus principais interessados. Boa nota para Rui Rio. Fosse ele assim em tudo e a minha opinião global sobre a sua gestão mudaria substancialmente. Continua a insistir, por motivos óbvios - pagar a obra na Avenida da Boavista - no erro da Linha da Boavista; mas o PS deu-lhe uma inesperada ajuda com aquela proposta duma linha em túnel entre a Senhora da Hora e o Hospital de S. João; em comparação com este absurdo até a Linha da Boavista parece racional.

O projecto Bandeira Azul para as praias do Porto, o projecto de recuperação da Pérgula de Nevogilde e respectivo passeio marítimo é outro ponto muito positivo. Toda aquela área, um dos nossos mais belos e cosmopolitas paseos não merecia o abandono a que estava votado. Boa nota para Rio mais uma vez.

Emilio Pérez Touriño tem sido, nos últimos tempos, o verdadeiro "governador" da Região Norte. Tem sido ele que tem pressionado, tanto o governo central espanhol como o português, na defesa da ligação ferroviária moderna entre Porto e Vigo. É do interesse dele? É. Mas não deixa de ser do nosso também. Para o Norte, e em particular para o Porto, esta via de comunicação é essencial por várias razões. Além de ser a via mais rápida de acesso ferroviário a Madrid e à Europa (não creio que a Linha Aveiro-Salamanca venha alguma vez a ser construída), será um meio mais fácil e seguro para o Porto aceder ao mercado galego. E o Porto tem muito a oferecer aos galegos: coisas que os galegos não têm como a Casa da Música, Serralves, uma universidade sem páreo no contexto regional do noroeste, o Património Mundial, a porta de entrada para o turismo no Douro e também o FC Porto, cujos jogos internacionais atraem sempre muitos forasteiros. Nota excelente para Touriño.

Carlos Lage é um convicto e determinado defensor da Região e da Regionalização? Acredito sinceramente que sim. Mas, infelizmente, transporta consigo um confrangedor capitis diminutio em relação ao galego: é um funcionário nomeado, enquanto Touriño é um legítimo representante eleito do seu povo com real poder de decisão. Enfim, faz o que pode e o que lhe deixam fazer.

Muitos encaram com desconfiança a aproximação do Norte à Galiza. Dizem que as elites galegas olham para nós com sobranceria. É provável. Mas isso deve-se mais ao estatuto político que a Galiza e as suas elites conquistaram comparado com o nosso do que com qualquer outro motivo. A leitura de alguns dados estatísticos deitam por terra qualquer receio de absorção do Norte pela Galiza. Senão vejamos:

  • i) O Norte tem mais um milhão de habitantes que a Galiza. É mais jovem e cresce naturalmente.
  • ii) A Área Metropolitana do Porto tem cerca de 1,8 milhões de habitantes contra os 400 mil da Área Metropolitana de Vigo.
  • iii) Neste momento, e ao contrário do que se passava ainda há poucos anos, a balança comercial é francamente favorável ao Norte.

Se temos medo da Galiza temos medo de tudo. A Galiza é a extensão natural do nosso mercado. É somar mais de 2,5 milhões de consumidores para os nossos produtos. Eles estão bem aqui ao lado e neste momento até têm mais dinheiro que nós.

A euroregião do noroeste peninsular é uma inevitabilidade histórica. A sua integração económica e social, cada vez mais evidente, virá a resultar a longo prazo numa mais que provável integração política. A nossa economia nacional é a economia da zona euro. Queremos ser a periferia duma economia regional míope, incompetente e dirigida por "chicos-espertos" como os que actualmente nos dirigem ou fazer parte duma economia regional onde temos voz e peso?

António Alves

P.S. - Ainda sobre Rui Rio: caso o Governo imponha a sua vontade e humilhe a Região, continuo a julgar que só lhe resta a demissão e a convocação de novas eleições autárquicas. Nem que seja para defender a dignidade da cidade.