De: José Silva - "Adesão e demissão de partidos políticos"
Há uns anos estive para me filiar no PS. Acreditava que as causas do atraso do Norte eram o centralismo do PSD e a tese do Portugal Unipolar de Cavaco. Ainda tenho a proposta de adesão. Cheguei a ir falar com o responsável da secção local de S. Mamede de Infesta. Mais tarde, acabei por perceber que a política partidária era uma actividade sinuosa com pouca liberdade e muitos interesses, contrário ao meu carácter. Não estou arrependido.
Julgava que o PSD era o partido concentrador: os tais «sulistas elitistas e liberais». Mas, para ser franco, Durão e sobretudo Santana foram para mim uma agradável surpresa por travarem a OTA, por tentarem a reforma Relvas, por tentarem deslocalizar ministérios, pelo avanço que teve o Metro, pela API no Porto, por dizerem que «Portugal não é Lisboa». Mesmo que tudo isto possa ter sido para inglês ver e que tenha coexistido com outros aspectos negativos com a centralização do INE ou Rui Rio a fazer campanha para ministro das finanças usando a CMPorto. Afinal o PSD não era assim tão mau.
Por outro lado, o PS tinha e tem pessoas em quem confiava pela sua seriedade e competência: Daniel Bessa e os citados «benfiquistas». Porém a governação de Guterres na perspectiva do Norte revelou-se uma desilusão. Uma rápida análise à localização do eleitorado nacional do PS levaria a antecipar que a governação de Socrates seria novamente um Keynesianismo dos grandes interesses da capital.
Como refere muitissimo bem David Afonso («Enquanto Lisboa redefine as fronteiras da nação à sua maneira, isto é, esquecendo as populações do norte e interior»), a manipulação do desenvolvimento territorial executada por este governo à custa do Norte é obviamente detectada pelos ilustres «benfiquistas». Disso não tenho dúvida. Também não tenho dúvida que não estão na política para proveitos pessoais ou tráficos de influências. Assim sendo, pessoas notáveis, inteligentes, sérias e desinteressadas e empenhadas no Norte como são, torna-se um grande mistério o facto continuarem a ser militantes do PS. O chocante é terem razão nos diagnósticos mas pactuarem. Por muito menos MJNP abandonou hoje um partido.