2008-06-01
Se os bons trabalhadores emigram ou vão para Lisboa como quer que o empresário tenha recursos humanos capazes de motivar uma ascensão? Entenda-se, o empresário não tem mais margem, são muitas as falhas, desde as educacionais, tributárias, judiciárias. Não devem ser eles o alvo da chamada de atenção. Não dá mais, não há por onde esticar, porque não há poder de compra. Penso que é fácil de entender.
O empresário aguenta com tudo, com a iliteracia que é um problema enorme e resulta das más políticas educacionais. Os trabalhadores chegam com uma teoria escolar inaplicável, são no mínimo necessários 3 anos de investimento para formar uma equipa capaz, muitas horas extra e acima de tudo um acompanhamento ao milímetro, diário e consecutivo. Excepção seja feita aos cursos que permitem o empreendedorismo. Acresce que o trabalhador do Norte, por não ter contacto com o desenvolvimento que merece, está ainda muito aquém das expectativas, dois anos de experiência em Lisboa valem 4 do Porto, é assim porque nos faltam uma série de recursos, que limitam a nossa desenvoltura.
O empresário aguenta a crise social que o Governo cria, não há poder de compra, não há possibilidade de fazer negócio, as pequenas empresas não fazem exportações, não podem pagar mais e trabalhadores mal pagos trabalham mal, porque desde o 25 de Abril ninguém está disposto a aguentar um projecto conjunto, é cada um por si. Se a classe media está descapitalizada, a pequena empresa vai fazer negócios com quem? O empresário fabril, o agricultor vai fazer o quê, se produzir custa mais 40% do que em Espanha, não vêem que a estratégia de abrandamento da tributação neste país com vista a apanhar a UE não nos dá margem de manobra? Vale a pena vender pelo preço de custo? Claro que não, mais vale ser trabalhador por conta de outrem.
Cair nesse erro de culpar os que são nossos, que todos os dias se esforçam, fazer uma avaliação face a um comentário de uma pessoa emigrada que nem sequer refere as horas que trabalha em face às que trabalhava no Porto, está mal António Alves, estaria bem se esse empenhado trabalhador nos dissesse que não ganhava mal para a média. Certo é que, tal como a maioria das cidadãos portugueses, empresários incluídos, não conseguia fazer poupança, isso estava correcto, culpar os empresários não está. Tenha como exemplo Trás-os-Montes onde muitos jovens emigram e de facto constroem casas e compram Audis como se ainda estivéssemos nos anos 70. Os idosos definham nas suas aldeiazinhas, alguns passam fome e resignados no muro comentam: - Estamos outra vez no fim do regime, é preciso uma revolução, mas os aviões da Europa matavam-nos, nem vale a pena tentar, se não fosse o medo até lá fora já tinha acontecido. :-)
Um abraço. Bom fim de semana, bom Serralves!
Cristina Santos
Bons dias senhores leitores.
Tenho muito o hábito de me encontrar em cafés na Baixa do Porto e na Foz do Douro. São locais com que me identifico, vivo por lá. E quando digo vivo, quero dizer que sinto muito alguns cafés, porque me faço reunir com amigos também de longa data e outros que vão chegando nas várias tertúlias. Isto para dizer, e ser breve, que hoje perdeu-se o hábito do confronto de ideias olhos nos olhos. Sentir o pulsar do coração quando em tertúlias me levantam questões muito pertinentes, me lançam pensamentos estruturados, que me deixam mais tenso.
Hoje, por detrás destes computadores, destas palavras congeladas no tempo, não aparecem senão sombras de pessoas que não conheço... Não conheço o senhor António Alves, ou o senhor TAF, ou J. Mota, ou a Senhora Cristina Santos. Enfim, não conheço o carácter. E para isso é preciso utilizar os sentidos... É preciso ver, sentir, ouvir. Nestes blogs, e perdoem-me a minha rudeza, respira-se ar viciado, daqueles parecidos aos ventos condicionados sem filtros dos shoppings...
Que maçada, encontrem-se de manhã, ao tomar o primeiro pequeno almoço da manhã, encontrem-se ao final da tarde, depois do trabalho... marquem a Cidade, porque ela marca-nos, não deixem que as palavras fiquem escritas neste vento condicionado... O meu apelo é este e não levem isto como uma ofensa, porque existem milhares de blogs, agora sendo este ligado à Cidade... Vejo muitas fotografias no blog... mas parem de estar sentados a ler o que escrevo e vão sentir a Cidade... Vão sentir o Campo... Mas saiam diante deste ecrã que nos consome a todos, os tempos...
Um abraço,
Lucindo Alves
"É que me é completamente indiferente se o Futebol Clube do Porto entra ou não entra nos campeonatos da UEFA, se está à frente ou atrás dos clubes lisboetas, etc., etc.. "
Há já muito tempo que me habituei a visitar diariamente este blogue. Achei que defendiam com empenho e adequadamente os interesses da cidade que me viu nascer e da qual eu gosto. Por isso continuei.
A partir de certa altura, começou-me a parecer que os intervenientes eram quase sempre os mesmos: ilustres (sem ironia) arquitectos, doutores, engenheiros, etc., e que os assuntos que realmente lhes interessavam só marginalmente poderiam interessar aos outros, como eu, que nem são ilustres, nem arquitectos, nem doutores, nem engenheiros, nem nada. Com efeito, sendo eu apenas um simples e vulgar cidadão, nascido nesta cidade (e já há muitos anos), os meus interesses não estão de forma nenhuma ligados ao imobiliário, à construção civil, à arquitectura ou qualquer outra coisa que não seja a defesa e o engrandecimento da cidade do Porto,
O meu interesse por este blogue começou a arrefecer devido a algumas discussões a que fui assistindo (sobre a requalificação da Baixa do Porto, a famigerada avenida Nun’Álvares, a situação no PSD, por exemplo…), que eram temas apenas interessantes, a meu ver, para alguns especialistas, talvez interessados pessoalmente nesses assuntos. Agora, depois de ler o que foi escrito no parágrafo acima pelo responsável pelo blogue, dou comigo a pensar que realmente não será exactamente a defesa do Porto (cidade) que move algumas pessoas que aqui escrevem. Talvez estejam mais interessados em exibir a sua erudição, a cultura e um espírito superior ao da maioria dos comuns habitantes da cidade.
Se puder, e quiser, claro, gostava que explicasse a um cidadão normal, como eu penso que sou, porque é que o mercado do Bolhão, por exemplo, é mais importante para a afirmação da cidade do Porto do que o Futebol Clube do Porto. Gostando ou não de futebol, para mim, Portuense por nascimento, é muito mais importante que o clube mais representativo da minha cidade fique à frente dos clubes de Lisboa e entre nos campeonatos da UEFA, do que saber se o mercado do Bolhão, por exemplo, vai ficar assim ou assado, ou se a tal avenida deve ter trinta ou cinquenta metros de largura.
Nem percebo que alguém que diz defender a cidade do Porto faça semelhante afirmação. Mas se calhar é defeito meu… Eu acho importantes, também, as outras matérias que discutem, claro, mas daí a dizer que é indiferente o que possa acontecer ao Futebol Clube do Porto… Para quem gosta da sua terra, como eu, acho demasiado forte.
Com os meus cumprimentos
J. Mota
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Nota de TAF: Caro J. Mota, este é um blog livre, ou seja, qualquer pessoa aqui pode escrever. Se considera faltar debate sobre algum assunto importante, basta escrever como agora fez. Todos os textos são bem vindos, porque o blog é feito por todos nós. Com mais tempo responder-lhe-ei melhor às questões que levanta. Diria agora apenas que concordo consigo quando considera mais importante o FCP do que o Bolhão para a afirmação da cidade. Eu prefiro é não misturar assuntos que deviam ser estritamente desportivos (e nesse aspecto pouco me interessam), com questões políticas (no bom sentido) de representação da cidade. A afirmação da cidade não pode estar dependente do êxito de um clube de futebol.
"Liberdade. Passei a vida a cantá-la, mas sempre com a identidade no pensamento, ciente de que é ela o supremo bem do homem. Nunca podemos ser plenamente livres, mas podemos em todas as circunstâncias ser inteiramente idênticos. Só que, se o preço da liberdade é pesado, o da identidade dobra. A primeira, pode nos ser outorgada até por decreto; a outra, é sempre da nossa inteira responsabilidade."
Miguel Torga, Diário XVI, Ed. Círculo dos Leitores, 2001, pgs 1566-1567
Na região, a EDP, espécie de Companhia das Índias em Trás-os-Montes, pretende construir um conjunto de novas barragens que, imagine-se, apenas acrescentam 3% à capacidade instalada para produzir energia eléctrica a partir da força hídrica. A barragem no Rio Tua acrescentará à capacidade produtiva uma verdadeira ridicularia. Mas isso não interessa, o que interessa é valorizar a capitalização bolsista da EDP – quanto mais betão espalhado pelo território melhor -, dar dinheiro aos amigos do senhor Jorge Coelho, uma albufeira a uns parolos (autarcas), que julgam que poderão lá semear uns campos de golfe nas margens, montar uns cais de encosto para umas motas de água, e, por essa via, trazer o almejado ‘desenvolvimento’ para a região. Tudo isto numa região gélida no Inverno e tórrida no Verão. O que não faltam são albufeiras em regiões com climas bem mais amenos e propícios a esse tipo de negócio.
A grande mais-valia de Trás-os-Montes não é a água em si. É a paisagem, da qual a água apenas faz parte, tanto a natural – as escarpas selvagens, todo aquele “belo horrível” avassalador - como a construída. E da construída, além do assombroso anfiteatro das vinhas do generoso, ressalta o património ferroviário. É tudo isto que, parece-me, a partir de hoje, está definitivamente posto em causa – a troco de mais uns euros no valor das acções da Companhia das Índias.
Se Portugal tivesse uma classe de engenheiros que honrasse os seus pergaminhos, a sua memória, e todos aqueles que lhes abriram o caminho na profissão, jamais alguém teria a veleidade de destruir o património inestimável, obra heróica da engenharia ferroviária portuguesa, que é a Linha do Tua. Mas enfim, são as ‘elites’ que temos.
Depois de mais de 120 anos sem um único acidente, de um momento para o outro, os descarrilamentos na Linha do Tua passaram a ser como as cerejas: vêm sempre aos pares e tendencialmente no mesmo lugar.
P.S. – Ainda acerca do Tuga: a descapitalização das empresas, as dificuldades e a impossibilidade de pagar mais, não obriga nenhuma delas a ter uma política de gestão de recursos humanos que ainda paga tributo ao senhor Frederick W. Taylor; que muitos ‘empresários’ tenham mentalidade de fazendeiros, e muitos ‘ quadros’ um imenso jeito para capatazes. Aliás, como é facilmente verificável na actuação do senhor Edil Rui Rio, e restante comandita, que, no fundo, também são produtos de uma mentalidade que teima em permanecer nesta região.
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Nota de TAF: notícia chegada entretanto - Acidente no Tua não foi provocado por problemas na linha
Passos Coelho fez uma boa campanha, pacífica, mas nada disse ao Norte do país. Perdeu e espero que, a não ser possível ter um partido que defenda a regionalização e os direitos que nos são devidos, o Norte encontre forma de se abster, renegando assim um projecto centralista, baseado nas condições económicas e sociais vividas em Lisboa, que diferem em muito das vividas no resto do país, que não se adequam à nossa situação e não reflectem o esforço tributário que o Governo nos exige.
Em total acordo com os 3 últimos posts, em especial com José Silva, não é possível às PME e MICRO locais pagarem mais, se querem continuar a forçar os mesmos, aqueles que entregam o IRS que os trabalhadores por contra de outrem recebem ao fim do ano, se querem continuar a fechar os olhos à espera do V. ordenado ao fim do mês, contando que a situação até nem está má e pode ser corrigida, com os mesmo intervenientes e com as mesmas propostas, desenganem-se. Aposto que em Setembro muitas mais empresas e serviços vão fechar na nossa região, quem como o Governo quer continuar a ignorar isso, pois que ignore e espere o dia em que todos vamos ser trabalhadores por conta de outrem, por não poder ser empresários nem dar emprego em território nacional.
Por último, Passos Coelho? E Marco António não diz nada à região? Que têm a mais os políticos do Sul que os do Norte não possam aprender, há muitos bem lançados e se Rui Rio se lançar também no sentido da Regionalização, é quanto basta para como diz Xavier Briga provocar um reequilíbrio do panorama político nacional. Temos que avançar antes de ficarmos completamente descapitalizados, em união empresas e trabalhadores, se o custo de vida não diminui e o Estado sufoca as empresas, temos que lutar todos juntos pelo bem, não é pelo mal, é pelo nosso bem.
Cristina Santos
Caro TAF
Passe o exagero, a cada três ou quatro "posts" que são colocados n' "A Baixa do Porto", o Tiago lá responde com um link para ofuturoeagora.blogs.sapo.pt como se fosse um "livro" de revelações. Sinceramente, da campanha para as eleições do PSD, não vi surgir qualquer ideia, vontade, compromisso ou inspiração para resolver os grandes problemas do País em geral, e da região Norte em particular. Não vi isso em nenhum dos candidatos "tradicionais", nem no Pedro Passos Coelho. Não vi, nem esperava ver. Como também não vi, nem espero ver, em qualquer um dos outros quatro partidos representados na Assembleia da República. Pura e simplesmente são estruturas que não têm qualquer incentivo à mudança dos equilíbrios estabelecidos. A mudança não vem daí. A mudança virá de uma outra qualquer força social que crie um desequilíbrio neste sistema cristalizado.
O que interpreto das palavras do Jorge Fiel é simples: o sistema político e partidário actual tem conduzido a um empobrecimento e perda da competitividade da Região Norte, com impactos claros e simples de perceber: 100 mil desempregados, milhares de pessoas obrigadas a emigrar, degradação urbana, empobrecimento cultural, etc, etc, etc. Este sistema não serve, porque distorce a concorrência. Todas as pessoas do Norte são obrigadas a financiar (via impostos) um sistema que atribui menor valor aos seus interesses/necessidades do que aos interesses/necessidades de outros protagonistas (podemos fazer uma lista infindável de exemplos). É uma ilusão pensar que vai ser diferente se não introduzirmos incentivos distintos aos governantes. E, na minha opinião e no que julgo interpretar das palavras do Jorge Fiel, isso só poderá ser feito se fizermos valer o peso demográfico da região em votos. Para isso é necessário concentrar votos num partido que clara e inequivocamente defenda a nossa agenda. Não tenho dúvidas que um partido das gentes do Norte, com uma votação massiva, seria o desequilíbrio que o sistema partidário necessita e contribuiria para uma ampla melhoria das suas condições de vida. Umas eleições bastariam... depois até poderia ser dissolvido.
Xavier Briga
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Nota de TAF: os links (cá vêm mais uns...) para lá reflectem o facto de aí estar com algum detalhe a justificação de várias afirmações que aqui fiz. Num dos posts coloquei os apontadores para os 20 principais textos que lá escrevi. Valem o que valem, mas foi pelo menos uma tentativa de expor de forma mais concreta aquilo que penso.
Caro TAF
A solução que preconiza já vem a ser tentada há décadas com resultados absolutamente nulos. Sem ir mais longe lembro-lhe o conto do vigário que foi vendido a este país, com o prestimoso auxílio de muitas 'elites' portuenses, aquando do referendo à regionalização: pediram às pessoas para votarem não em troco de uma verdadeira 'descentralização' e 'desconcentração'. 10 anos depois nada disso aconteceu, muito pelo contrário; e, facto insofismável, as pessoas desta cidade e região, incluindo muitos familiares meus, estão mais pobres, passam dificuldades, e a culpa não é apenas da globalização e da crise económica. Não fique à espera que os desamparados se mantenham eternamente na apatia porque a história prova-nos que isso não é assim.
Espero sinceramente que a sua solução tenha êxito. Mas não demore mais 20 anos porque nessa altura já não terá em quem a aplicar.
P.S. - Reforço: espero sinceramente que tenha êxito e seja célere.
Caro Tuga,
Eu posso lhe relatar a realidade vista do lado dos empresários do Norte: não há capacidade para pagar mais.
Excepto se a empresa iniciar um processo doloroso e muito exigente de aposta em novos produtos e sectores de maior valor acrescentado, onde as margens são maiores e se possa então pagar mais. A isto chama-se aumento de produtividade. Porém, ao contrário do que todos pensam, isto não é feito com a 1ª geração de empresários/gestores. Esta mutação implica um domínio da tecnologia do novo produto e networking nos novos mercados que não é fácil conseguir. É mais fácil você se tornar empresário do que os actuais, com cursos liceais, ex-combatentes do Ultramar, sem arranhar inglês fazerem esse turn-around. Claro está: você e os seus amigos fogem para Lisboa ou Dublin e culpam os que cá estão. Coragem para criar algo diferente é que falta, não é? Trabalho há 10 anos em PMEs de serviços (incluindo TIs) e indústrias a Norte, com diferentes gerações de patrões, mas o padrão é o mesmo.
José Silva – Norteamos
Caro Tiago,
O António Alves (se o entender) responder-lhe-á bem melhor do que eu, mas permita-me que lhe dê a minha própria resposta.
"Quem é o inimigo?", foi a sua questão. O inimigo é, em duas palavras, quem tudo tem feito para ser avaliado como tal: o Governo de Lisboa. Por quê? Imagina que o A. Alves se estava a referir a nuestros hermanos? Eu penso que não. O inimigo (e isso é que deve ser salientado) está de facto cá dentro, no território, a gerar cisões territoriais, a multiplicar desgostos, a semear desemprego, a arruinar famílias, a fomentar a emigração, a potenciar a criminalidade. Tem dúvidas? Ou considera essas acções, inequívocos manifestos de amizade? Nem de solidariedade sequer são.
O post do A. Alves com o seu pertinente desamparo aprendido é para reflectir e para levar a sério e extremamente profilático para os mais distraídos. Se o Governo é o que todos sabemos, e a oposição consome os recursos com guerras intestinas pelo poder e se alheia dos reais problemas, qual é a surpresa?
O Tiago filiou-se no PSD e já está a fazer o seu papel de militante, o que se aceita. Só tem é que interiorizar melhor que o eleitorado (lembre-se das crescentes taxas de abstenção e de votos em branco) não se limita aos portugueses com filiação partidária. Muitos (como eu), não se revêem em nenhum partido político, pela simples razão de não lhes merecerem crédito. E não é apenas porque sim, é concretamente porque S. Exas. os nossos governantes cultivaram hectares e hectares de mentiras e decepções, durante anos a fio, e agora têm de saber colher os correspondentes resultados. Se não sabem, que aprendam, que uma dose de humildade nunca fez mal a ninguém.
Um dia, caso isto descambe para o torto, talvez então se lembrem que as coisas más não acontecem só lá fora. Mas depois não falem de terrorismo, de violência, porque os responsáveis primeiros não serão seguramente os eventuais "revoltados". Cá, como lá, há pessoas capazes dos actos mais nobres, como das barbáries mais inesperadas, basta que o clima seja propício e isso acaba por acontecer. Sempre foi assim. E o que é preocupante é não se admitir sequer essa hipótese. A União Europeia não faz milagres, principalmente quando a fome apertar e os países perderem a sua própria coesão.
As pessoas não vivem todas 100 anos e precisam de viver. Estão cansadas e zangadas com as promessas que se fazem e ficam sempre por cumprir. Já chega.
Rui Valente
Caro António Alves, não percebo, especialmente depois de ler este seu post, contra quem é a revolta dos desamparados que refere. Quem é o inimigo? É o centralismo em Lisboa? São os nortenhos aqui em cima, vergados ao poder de Lisboa? Afinal é uma "guerra pela independência", ou é uma "guerra civil"?
Eu continuo a pensar que a solução está nas nossas mãos e que ela passa mais por iniciativas destas (a que está a ser dada continuidade, não tenha dúvidas) do que por radicalismos emocionais.
PS: Permitam-me mais uma nota, ainda a propósito do mesmo. A corrente de opinião em que me envolvi representa já um terço do maior partido da Oposição, e construtivamente tenta convencer os outros dois terços da razão das suas propostas para depois conquistar o Governo e as aplicar. Tenta além disso promover um maior envolvimento dos cidadãos, cativando novos militantes. Acho isso mais eficaz do que outros movimentos (presentes ou futuros) com representatividade apenas marginal.
PS 2: Depois leio textos como este de Jorge Fiel... "A mal" como?! À revelia do voto da população?
Meus Caros
Nunca pensei escrever sobre futebol, que é uma actividade que não aprecio particularmente. Sobrevivi até aos 45 anos a todas as conversas de futebol à minha volta com a condescendência dos meus amigos que sempre me acharam um tipo estranho por não ligar ao assunto. Não consigo ficar indiferente ao que se passa com o Futebol Clube do Porto, porque é demasiado importante para esta cidade e para esta região. Depois de a cidade já ter perdido o Salgueiros, de estar em vias de perder o Boavista, o revés que é para a cidade o eventual afastamento do FC Porto da Liga dos Campeões é um sinal muito claro de que algo está a correr muito mal, até para mim que não percebo nada disto.
Indiscutivelmente o FCP é um caso de sucesso e de gestão que soube, consistentemente, demonstrar o seu valor onde realmente importa, dentro das 4 linhas. A projecção da cidade no mundo é também construída pelos sucessos do FCP. Fiquei naturalmente preocupado quando o FCP foi condenado por corrupção desportiva e, no país que parece ter inventado a indústria dos recursos, tomou a estranha decisão de não recorrer, conformando-se com a condenação e dando um sinal de aceitação de algo que nunca se negoceia, a honra. Para quem está de fora do futebol não consegui perceber mais do que isto.
Agora que há tantas dúvidas sobre o que vai acontecer e que o nome do FCP está a ser manchado por todo o lado não me resta dizer outra coisa que não seja que hoje eu sou portista.
Francisco Rocha Antunes
Gestor de Promoção Imobiliária
O texto que se segue, comentário a um post meu no Norteamos, diz mais sobre a realidade portuense, as reacções, avaliações e expectativas das pessoas, do que os milhares de textos que aqui e noutros sítios têm sido escritos sobre o assunto. Cristalino como a água.
“Tenho muitos colegas meus que trabalharam no Porto e mudaram-se para Lisboa. Eu preferi vir para o Norte da Europa. A verdade é que no Porto se trabalha em regime de escravatura pois como há poucas oportunidades de emprego, o pessoal convence-se que tem de aturar tudo e mais alguma coisa e vai dando o c... para ver se subindo na empresa mais tarde pode fazer igual aos outros. O que é certo é que ninguém gosta de trabalho escravo e de ser explorado. E essa exploração é feita pelos empresários do NORTE! Convém clarificar isto. Pode-se dizer que isto é uma consequência da drenagem de empresas do Porto para Lisboa, de modo a se encontrarem mais perto dos círculos de corrupção de modo a terem sucesso nos seus negócios. Certo! Mas a exploração mais óbvia é feita pelas empresas do Norte, que se aproveitam do marasmo e da letargia do Porto. Portanto eu tomei a decisão óbvia: fugi do barco que se afunda. Já tomei a decisão há um ano e a única coisa que me arrependo é de não o ter tido feito 2 anos antes quando pensei nisso pela primeira vez. Eu já tenho a minha solução e "fórmula mágica" para ter uma vida mais descansada: trabalho num pais rico, o dinheiro que ponho de lado é superior ao que recebia no Porto e em alguns anos consigo comparar uma casa a pronto em Portugal como um misto de casa de férias/seguro de velhice. E assim não fico escravo por 40 anos de nenhum banco e nem de nenhuma empresa. Aqui sei que se estiver mal, facilmente mudo para outro lado (e até outro pais).”
Os psicólogos Maier, Seligman e Soloman, publicaram em 1969 o resultado de uma experiência com animais. Estas hoje talvez sejam vistas como um tanto ou quanto cruéis, mas cá vão.
Nesta experiência foram usados dois grupos de cães, os animais de um grupo sofriam uma série de choques, mas podiam interromper a situação desconfortável se pressionassem um painel com o nariz. Os cães do segundo grupo sofriam um choque da mesma intensidade e duração, mas não tinham qualquer controlo sobre a extinção do choque.
Posteriormente os animais dos dois grupos foram colocados numa situação onde podiam escapar e evitar o choque saltando uma barreira entre dois compartimentos. Apesar da fuga e evitação serem agora possíveis para todos os cães, os investigadores verificaram que só os cães que antes eram capazes de interromper a situação de desconforto e tinham controlo sobre a situação conseguiram aprender a saltar a barreira e fugir aos choques. Os cães do segundo grupo, os que nunca tiveram controlo sobre a extinção do choque, saltavam, corriam, latiam quando sofriam o choque nos ensaios iniciais, mas a pouco e pouco deixaram de o fazer, permanecendo sentados ou encostados e recebendo passivamente os choques que lhes eram infligidos. Os animais passaram a agir como se qualquer resposta fosse inútil. Estava cunhado um novo conceito: o desamparo aprendido.
O desamparo aprendido também se verifica com os seres humanos. E embora a teoria se aplique fundamentalmente a indivíduos, parece-me que a sociedade portuense, no seu conjunto, se encontra neste estado psicológico: por muito que lhe batam, vilipendiem, ostracizem e discriminem, ela julga que qualquer reacção para se defender é ineficaz. Mas às vezes, inexplicavelmente, os desamparados explodem numa torrente imparável de raiva e violência.
Dado o trabalho sistemático e dedicado, complementar ao d'A Baixa do Porto, no RUAS DA MINHA TERRA, este blog passa a figurar em permanência aqui no menu da esquerda. Visita regular recomendada.
Exactamente Tiago, mas não devias dizer isso apenas aos portuenses, mas sim e principalmente ao Governo deste país. Lembras-te quando a Dr.ª Manuela Ferreira Leite, essa senhora inesquecível, aceitou ao Benfica as acções como garantia para pagamento da dívida fiscal, e valorizou-as mais do que algum dia elas hão-de valer? Quem foi o prejudicado?
Não é só o povo que valoriza o futebol, o Estado fá-lo em primeira instância. Actualmente há dinheiro público a ser despendido em processos que não interessam a uma parte significativa dos portugueses (se outros não houver, a maioria das mulheres) parte dos seus impostos é gasta pelo Estado nesse tipo de averiguações, quem devia ganhar, quem ganhou mal, é ridículo, claro que é mas não é o povo nem os adeptos que estão a fazer isso, é o próprio Estado e de forma quase fanática e focada essencialmente no Norte. E ainda não acabou, mais dinheiro vai ser despendido e a «melhor equipa de investigação» do Estado vai permanecer ocupada com este processo.
O FCP tem tirado adeptos e negócios de futebol ao Sul. Como sabes, nem só as pessoas do «povo» são adeptas de futebol há muito ministro, deputado, e Homens da coisa pública exaltados pela bola, e nesse campo o FCP não há-de estar muito bem representado, atendendo a que poucos ou nenhuns políticos do Norte participam nas decisões deste país. Se assim não fosse nunca se justificaria tal gasto, num país da nossa dimensão económica. A forma como a coisa se tem desenrolado, a reincidência, a particularidade dos afectados serem do Norte, desperta nos portuenses o sentido de injustiça e devia despertar a todos os portugueses. A situação chegou tão longe que se se mantiver não vamos ganhar nada na Liga de Campeões, fazes ideia de quantas pessoas nos vistam em nome do FCP, para algumas é a única referência de Portugal - Porto e Vinho do Porto.
Não sei, melhores opiniões haverá que a minha, que conheço o Lucho e o Quaresma e só porque tenho uma certa preferência por morenos, mas parece-me óbvio que há aqui muito fanático político a ser pressionado e o FCP que num país que não é regionalizado, não pede, não conta com o Norte, não tem quem o defenda.
Cristina Santos
Trata-se dos afectos, Tiago. As pessoas podem não gostar de futebol - como o Tiago - que a mim não me perturba, mas já me perturbaria saber que alguém o estaria a prejudicar a si, não ficava indiferente. E o FCPorto não é só Pinto da Costa, são muitos milhares de portuenses tão importantes como os que lhe são indiferentes que se sentem prejudicados.
E não é por gostar de futebol que não deixo de lutar (como o Tiago) pelos interesses da cidade, só o estilo é que pode divergir. No resto estamos em plano de igualdade, se me permite a presunção.
Rui Valente
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Nota de TAF: eu gosto de futebol! Só não tenho é tempo para ver, infelizmente. Na minha lista de prioridades fica para trás.
Permitam-me partilhar convosco, caros leitores e participantes, a minha sensação de viver num mundo diferente de, possivelmente, uma vasta maioria de portuenses. Resta saber qual deles será o "virtual"... ;-)
É que me é completamente indiferente se o Futebol Clube do Porto entra ou não entra nos campeonatos da UEFA, se está à frente ou atrás dos clubes lisboetas, etc., etc.. Também não imagino que seja possível uma conspiração da UEFA contra o Norte mas, com franqueza, nem sequer tenho paciência para estudar as eventuais "provas" que existam. O único ponto que me preocupa ligeiramente é o impacto económico no negócio que é o futebol, e que traz vantagens para a cidade. Fora isso, acho que era tempo de a cidade se dedicar mais a outros assuntos que, na minha modesta e certamente pouco informada opinião, são mais importantes.
Se todas estas energias fossem aplicadas mais adequadamente, o Norte seria grande.
PS: coisas que não dignificam o Norte - "Paulo Rangel (...). Com o mandato suspenso há cinco meses - por razões de saúde -, regressa amanhã à Assembleia da República." Foi a vitória de Manuela Ferreira Leite que o curou?
Uma palavra impunha-se... mesmo por parte de quem é avesso a futebóis (mas tem a estrita obrigação de zelar pela defesa da sua cidade e também das suas instituições). Esta vergonhosa decisão da UEFA afecta a cidade, pelo menos quanto aos milhares e milhares de forasteiros (leia-se, adeptos estrangeiros) que deixarão de nos visitar. Ainda a propósito de tudo isto leia-se o que escreve Miguel Sousa Tavares em "A conspiração contra o Campeão (I e II)". Ando, por tudo isto, sem vontade para nada... até para escrever!
Correia de Araújo