De: Hugo Enes - "European Cities Monitor 2005"
A ambição do Porto deverá ser pertencer a este grupo de 30 Cidades Europeias de "Elite". Eu não quero morar numa cidade lindíssima como Veneza quero é morar numa cidade dinâmica como Milão.
Para realizar esta ambição, o Porto teria que ter uma estratégia agressiva para melhoria da sua competitividade. Essa estratégia é exactamente a oposta do que o executivo camarário está a seguir. O perfil de "administrador judicial" que Rui Rio encarna deverá ser substituído por um perfil de "promotor e mobilizador" da cidade do Porto. Mais, as prioridades de Rui Rio: combater à pobreza e promover recuperação urbana, só poderão ser concretizadas com uma efectiva dinamização económica. Não existe recuperação urbana (com dinheiros públicos ou privados) se não existir procura por parte de empresas ou indivíduos por novos espaços. Não existe emprego, se não existir investimento. Logo, claramente, a estratégia tem que ser a captação de investimento.
Para captar investimento, o Porto tem que conquistar "mindshare" no plano nacional e internacional. Para isso é necessário promover activamente a cidade e as suas qualidades. Eu pergunto: quantas vezes Rui Rio falou com os principais empresários da cidade (Belmiro de Azevedo, Américo Amorim, Mota entre outros), com os principais decisores económicos nacionais (Ricardo Salgado, Queirós Pereira, Teixeira Pinto entre outros) ou com decisores internacionais para "vender" a cidade?
O estudo parece claro que eventos tipo Expo, Euros não são importantes na atracção de investimento. Talvez seja verdade (e é bom que seja verdade porque não há dinheiro para tal), mas o facto é que Barcelona está há mais de uma década a "surfar" na onda que criou com os Jogos Olímpicos e que Valência começa a fazer a mesma coisa com a Copa América. Mas outro tipo de promoção pode ser feito. Apoiar uma fusão Porto-Gaia e duplicar a dimensão da cidade, é uma medida que, para além de economicamente benéfica, é um facto mediático que teria as evidentes repercussões internacionais na luta pelo tal "mindshare".
Voltando ao estudo, um dos principais factores de decisão para se optar pela localização numa ou noutra cidade é a existência de um ambiente competitivo e a concentração de outras entidades (parceiros, fornecedores, concorrentes) no mesmo espaço. Logo, o resultado da reorganização empresarial que está ocorrer em Portugal não é neutro para a cidade. Que cidade seria o Porto se o BPA não tivesse sido comprado, se a SONAE tivesse comprado a Portucel, se a Unicer tivesse comprado a GALP? Óbvio que não é Rui Rio que decide, mas pode ser mais um factor de influência e, quem sabe, o factor que faz pender a balança para um dos lados.
Um Presidente da Câmara conseguirá tanto mais influência, quanto mais cidadãos representar, quanto maior seja a sua capacidade de os mobilizar, quanto mais empatia com eles conseguir, quanto mais visibilidade e ajuda lhes proporcionar. Não se consegue isto fechado num gabinete, sem falar à imprensa, afrontando tudo o que bem ou mal se foi fazendo.
O Porto tem o potencial para crescer. Tem um custo de mão-de-obra competitivo, tem ligações de transportes razoáveis, tem um potencial demográfico interessantíssimo, tem que ter espaço disponível a preços competitivos (a cidade está deserta), tem instituições Universitárias com dimensão. Só falta quem o promova, quem mobilize as suas pessoas, quem valorize as suas iniciativas e quem lute por ela.
Este é um jogo que não acaba e estamos sempre a tempo de agir. Roma já foi o centro do mundo e agora é apenas a 26ª melhor cidade da Europa para localizar uma empresa.
Hugo Enes