De: Cristina Santos - "Quanto vale a memória de um povo?"

Submetido por taf em Segunda, 2006-10-16 22:58

Pela lógica do défice, o povo vai aceitando que se façam cortes na saúde, na educação e na cultura. A maioria da sociedade activa apoia estes cortes. Só se insurgem as classes directamente visadas. Um dia reclamam os médicos, outro dia os professores, outro dia os artistas. Mas todos aqueles que reclamam, trabalham. Contribuem como todos nós, cada vez mais, por mais tempo e com mais dinheiro. Na hora de receber cortam nos salários altos, para igualar todos no nível mais baixo.

Não devemos aceitar que nos invertam a lógica, Rui Rio se não tinha verba para gerir o Rivoli devia tratar de a reclamar junto do Governo, o Porto tem esse direito. O Rivoli é um espaço emblemático da história da Cidade, deve ser mantido sob o domínio público, deve ser bem tratado e fortemente apoiado para que nunca perca o seu esplendor. O Rivoli identifica o povo, o povo não pode quebrar laços com a Cidade nesta altura de crise. Os portuenses têm que ter símbolos, referências, devemos conservar viva a memória.

Lamento que Autarquia do Porto não tenha ido mais longe, não tenha concebido que o povo sente que a sua cidade está tão perdida, que já se vende o património em hasta pública. Aquilo que não se conserva perde o valor, o Centro Histórico não vale nada porque ninguém o trata bem, o Rivoli dá prejuízo, daqui a pouco não temos nada que mereça ser conservado e assim a Cidade não tem valor. Depois queixam-se da desertificação...

Rui Rio tinha aqui uma oportunidade para se diferenciar, aproveitava a posição da ministra da Cultura em outros episódios e pressionava no sentido de obter verba que possibilitasse manter o Rivoli no domínio público e nessa situação teria conseguido o pleno apoio do povo e talvez da oposição.

O Porto tem estado na posição de devedor, o país deve ajudar-nos a manter a nossa memória, os nossos laços, temos esse direito, só não temos quem o reclame.
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Cristina Santos