De: Lino Cabral - "Planeamentos"
Quando ouço a palavra planeamento vem-me de imediato o que o velho grego Diógenes dizia sobre os poetas: aponto-lhes o meu bastão!
Há muito que as muralhas ruíram transmutando as cidades em sistemas abertos cuja certeza previsível é só uma: a incerteza. Esta mudança radical é irreversível e exige outros instrumentos e modelos de gestão não compatíveis com as boas intenções planificadoras dos nossos avós.
Se olharmos cuidadosamente para o que aconteceu nas últimas décadas concluímos que a planificação resulta até determinado ponto, num ambiente controlado, ou seja, totalitário. Rigidez só combina com rigidez (os famosos planos quinquenais soviéticos ou as políticas de fomento do Salazar são disto um sério testemunho.)
Curiosamente constatamos que à medida que o planeamento urbano foi sendo assumido como o remédio para os males urbanos, a especulação, desordem, corrupção e outras malignidades cresceram a olhos vistos. Aliás as constantes rectificações e alterações compulsivas do dito planeamento são sintomas de avaria grave.
Manter viva e sã uma cidade é um assunto de complexidades múltiplas para ser tratado à régua e esquadro nos imaculados estiradores dos arquitectos. Citando Juan António Blanco: "Ficamos enjaulados numa arquitectura institucional, tornada obsoleta e incapaz de responder com eficácia aos desafios da realidade em constante mudança. Sobretudo vivemos aprisionados pelo nosso imaginário moderno, axiomas civilizacionais e mitos culturais".
Como nos ensina a cibernética, os parâmetros de um dado sistema aberto só poderão ser controlados por outro sistema de maior complexidade. Teremos que construir a matriz integradora das inúmeras variáveis que traduzam fielmente a complexidade da cidade, enfim, teremos que construir o "algoritmo" da boa governança da nossa cidade. Mas isto é outro assunto.
Lino Cabral