De: Pedro Figueiredo - "Entre o «real irreal» e o «neo-real»"
“Walking round the centre, you find not just empty shops but whole blocks of abandoned property. Porto is fast becoming a kind of European Detroit or mini-Havana. Many say the place has always exuded an indefinable air of melancholy. But today every street corner is a monument to the economic crisis.” É o que diz a BBC agora. O que disse o Finantial Times antes? Vinde ricos de todo o mundo. O Porto é uma óptima opportunity para especular. Olhai as “Cardosas”. Rico exemplo (que a UNESCO reprova…).
1 - O problema da realidade é que a realidade é real. Tudo se complica quando se quer tão somente “dar imagens”. Toda a gente se preocupa com a imagem (legítimo). O que tem é a consequência da menos-preocupação com o “real”. O tal.
2 - Entre o “real-irreal” que é a surreal austeridade que se tem abatido sobre a cidade. Incluindo lojas, incluindo arquitectos sem trabalho, incluindo bairros “associais” sem luz, incluindo “casas” sem gente a viver, incluindo dezenas de sem-abrigo que dormem ao relento por entre casas vazias e entaipadas para que eles não ousem tentar sequer viver nestas. …E o neo-real, preferimos este último. O neo-real é mais real.
3 - Entre a cidade e a não-cidade preferimos a cidade. Neo-Realista. Já que a “realidade” e o “realismo” têm agora um dono. Esse dono agora é (o burro do) Pedro Passos Coelho que arvora a qualquer hora com “a realidade” (só ele sabe qual é, portanto) e o “sermos realistas (ele é o dono desse “realismo”. Só ele sabe.) Enfim, conversas para papalvos comermos.
4 - E quanto às políticas do novo vereador do urbanismo e do novo presidente da Câmara? “Aguardemos”…Pelas discussões, trata-se quase, quase – por agora - de discussões de personalidade (eu disse “quase”). Elegância, distinção. Defensores desta terra. “Um senhor”… O que disse o New York Times? (10 milhões de euros: a estimada fortuna de Rui Moreira por si próprio / 10 milhões de euros: o valor que Rui Rio decidiu há bem pouco tempo descapitalizar da empresa pública de águas do Porto). “Personalismo” ou o tão em voga “o importante são as pessoas” (Quais? “estas pessoas” / “não outras”).
5 - O importante é o colectivo, e as políticas reais, não “as pessoas” (uma abstracção eleitoralista). A cidade chama por nós, a cidade é um colectivo de gente e construções. Impossível não ouvir o seu clamor. "Repeat please dear BBC: Walking round the centre, you find not just empty shops but whole blocks of abandoned property. Porto is fast becoming a kind of European Detroit or mini-Havana. Many say the place has always exuded an indefinable air of melancholy. But today every street corner is a monument to the economic crisis." “Thank you.”