De: Pedro Figueiredo - "Contas à moda de Rui"
Contas certas, gerir um Estado ou uma Câmara “como uma empresa” ou como uma família são um fetiche, um cliché que define a Direita – tem tudo de ideo–lógico. Tal é o auto-branqueamento político ou ideológico, que estes políticos “não, nunca se definem como políticos”, antes “técnicos”, “meros executores”, ou mais singelamente “cidadãos independentes”, “sociedade civil – sempre da esquerda à direita”, sempre “abrangentes”… Esta foto é do baú do meu avô. Tirada ao nível dos olhos na Praça frente aos Congregados durante a célebre espera do Povo do Porto ao General Sem Medo. Por vezes parece que esta fantástica e invicta cidade suspendeu o seu invicto carácter por doze anos, permitindo e reelegendo para cúmulo o Rui, o ideológico Rui e as suas práticas nada-democráticas, tudo-salazaristas: um período negro, de apagamento da inteligência crítica, em que cedência após cedência de dignidade os portuenses.
(1-) Entregámos equipamentos públicos a privados, (2-) deixámos acontecer miséria a dormir pelas ruas, (3-) olhámos para o lado enquanto a polícia despejava humildes cidadãos de suas casas privadas nas Fontaínhas, (4-) “não era connosco” quando expulsaram as vendedoras do Bom Sucesso, (5-) “não foi connosco” quando foi imposta censura sobre as companhias de teatro também expulsas do Rivoli, (6-) assobiámos para o lado enquanto demoliram habitação pública para os mais desfavorecidos – as Torres do Aleixo, o S. João de Deus. Um período negro em que, (7-) lote após lote não reabilitámos a cidade, e – não contentes - (8-) para garantir que ninguém necessitado as ocupasse ou, quem sabe, pudessem até ser intervencionadas, entaipámo-las, como que se definitivo remédio se tratasse. (9-) Aos graffitis, murais políticos ou intervenções artísticas que cobriam esses destroços que degradámos e consentimos, consentimos (“não era connosco”) que chamassem de vandalismo, mesmo que apagá-los fosse afinal, não uma limpeza de paredes, antes uma censura da mensagem e liberdade de alguns destes. (10-) Quando bateram nos drogados (“Porto Feliz”) também não era connosco (“O que faria Jesus Cristo no teu lugar?” sempre ouvi nas missas da infância) (11-) Sempre que ouvimos falar de cultura puxámos da máquina de calcular (ou da pistola se fôssemos Goebbels), e portanto (12-) “S. João é apenas uma data, nunca um feriado, cultura popular”, (13-) “a Feira do Livro não interessa porque, parece, custa dinheiro e, ainda por cima, é cultura. Quem lê pode ser perigoso, pode ter juízo crítico e não, não queremos isso. (14-) Por um triz não demolimos a nossa maior jóia – o Mercado do Bolhão para fazer um shopping. (15-) Por outro triz, ainda não vendemos o Rosa Mota para festas de empresários. (16-) Achámos – muitos acharam – que a CMP fez bem em expulsar à cacetada os jovens empreendedores da Fontinha que ergueram – lá está – um Projecto Independente sem qualquer ajuda ou subsídio do Estado. “Eram Radicais/Anarcas”, não eram “empreendedores”. (17-) Também não conhecíamos as senhoras recentemente despejadas que voltaram por apenas 200 euros/mês para a ilha, em 2013. “Não eram do nosso círculo de amigos”. (18-) E também não sabemos o nome dos que vivem em caixotes na Rua 31 de Janeiro, no viaduto de Gonçalo Cristóvão, nos vãos das lojas que faliram na Rua de Santa Catarina. “Vamos alimentá-los à noite” como se fossem pombos. Na rua continuarão no dia seguinte.“
Cidade Invicta”: já só faltam 4 dias para acabares com esta coisa sem nome que foram as contas certas à moda do Rui – um fascista da pior espécie, a dos pézinhos-de-lã. Existem contas certas sem contar com as pessoas? Contas sem contar com a cidade? Ainda somos Invictos? Em que populismo votaremos já a seguir? No elitismo de Rui ou no populismo de Luís Filipe? Não vamos virar isto ao contrário?