De: Alexandre Burmester - "Porto - Arquipélago de Bairros Sociais"

Submetido por taf em Sexta, 2013-09-20 20:25

Na discussão sobre a cidade do que resulta a campanha autárquica, percebe-se que a discussão sobre os programas e sobre as pessoas seja bem mais importante do que sobre ideais políticos. Não que a discussão seja mais interessante ou pertinente, mas apenas porque pouco toca a uma população e a uma geração que cada vez se afasta mais destes valores conceptuais e cada vez se aproxima mais dos valores térreos e práticos.

Percebo por isso a nossa “Esquerda” política, que nesta altura ainda esgrima argumentos do tipo das “lutas de classes” e ainda quando os vejo defender os Bairros Sociais, verdadeira nódoa urbana, um dos maiores erros do Urbanismo da era Moderna. Caracterizam por espaços monofuncionais de má qualidade ambiental com construção barata, em que se teima em gastar dinheiro para eternas e sempre futuras obras de recuperação.

O crescimento da cidade em anos passados levou que se construíssem “ilhas” e posteriormente os bairros camarários, sempre nos locais ermos e escondidos, sempre na tentativa de esconder a “pobreza”. Hoje o Porto encontra-se cheio de bairros, pejado de espaços de ruptura na continuidade urbana. O Portuense destes bairros está habituado a ser ostracizado e por isso mantem até hoje uma atitude de quase auto-exclusão e de vergonha por aí habitar. Contudo nem todos os bairros são iguais ou mesmo neles habita uma massa homogénea. Seria mais do que justo e correcto tentar promover a inserção de todos os habitantes desta cidade em todos os seus espaços.

Se pudesse defender alguma solução para os bairros sociais, mais depressa tentaria erradicá-los, promovendo a possibilidade de deslocação destes núcleos habitacionais para o centro das cidades e a sua periferia tradicional, que se encontra igualmente em depressão e onde uns e outros se poderiam ajudar. Poderiam ainda ir para quaisquer outras áreas, mas que passariam sempre pela pluralidade de classes e de funções urbanas. Naturalmente que soluções destas não passam pela tirania nem pelo paternalismo. Tirania de mandar e ordenar sem recorrer a um programa de trabalho em conjunto com as populações, que poderia até dar indicações contrárias; Paternalismo típico daqueles que continuam a achar que os mais “desfavorecidos” não têm condições e capacidade de escolha, por isso há sempre que sair em sua defesa e em sua decisão.

Cabe apenas à Câmara ou ao Estado tomar posse dos inúmeros prédios devolutos, caso os seus proprietários não queiram ou possam intervir, transformando a sua propriedade num qualquer direito patrimonial. Intervir nos prédios, criar funções e habitação e transformar as rendas pagas num investimento que se traduziria também numa futura moeda patrimonial. Com a quantidade de prédios devolutos facilmente se transformariam igualmente os quarteirões e com eles a cidade.

Urgente é mudar este paradoxo e com isso alterar a vida das pessoas e do Porto.