De: Pedro Figueiredo - "Já só faltam 31 dias"
1 – Despejaram pessoas nas Fontainhas, como se de cães se tratasse. Normal, tudo normal. No Aleixo, na Fontinha, no Bairro do Falcão o caso das senhoras que não entregaram burocracias, etc… No fundo, a questão é “apenas” a indignidade com que a direita que está e que pretende vir a ficar trata os portuenses pobres: primeiro dispara, corta água e luz, despeja, bate. Só depois pergunta(!) o nome, se é que pergunta, ou se a escarpa está mal ou bem. E se estiver para desabar? Ao menos a escarpa tem tratado bem melhor a população que Rui Rio. E nunca despejou ninguém, que se saiba. Por isso, as casas vazias foram simbolicamente pintadas de vermelho, a sangrar das janelas.
2 – À noite, filas de pessoas na Cordoaria para receber comida e assistência / De dia, filas de pessoas em turismo por toda a Ribeira e Baixa em geral a aproveitar os baixos preços e a nossa “situação”. Valha-nos sermos bonitos. Uma cidade bonita. Pobres, mas bonitos de ver e visitar. 3 º mundo, é o que é.
3 - Mas se somos uma cidade que não produz, nem fabrica, nem emprega, então, é o remédio que temos, turistificarmo-nos, a gosto ou contragosto. Para tal. Alemanhas e blogues nos têm eleito como os mais bonitos de ver e o FMI e o Governo nos têm colocado a preço de saldo. Uma cidade que não é para portuenses, mas para inglês ver. O 3º mundo.
4 - Com o Cinema Batalha devoluto, entalado entre dois hotéis (de “reabilitação”) e mais dois do outro lado da praça. “Má sorte ter sido Cinema”. Alguém que o transforme em hotel. E já vão cinco só ali…
5 - Toda a gente promete reabilitação urbana aos molhos. Só sei que, em 3 anos, Siza e Souto Moura receberam merecidíssimos prémios vários e de vária ordem. Enquanto isto, centenas de outros arquitectos nesta cidade da melhor escola de Arquitectura do país ou… ou não trabalham, ou não conseguem, ou já emigraram… ou fazem “outras coisas”, ou têm vergonhinha da calamidade que nos atingiu / e afinal está tudo bem”, ou…(…) (tão perto da So-CIDADE esquizofrénica.)
6 – De madrugada, filas de pessoas no IMTT, entre o Viso e a zona industrial para “pagar coisas e arranjar papéis para poderem circular”. Lá dentro, amontoam-se. Mais uma visão do 3º mundo. “Um maravilhoso mundo novo sem Estado, nem burocracias, só mercado?”. Não. O Estado nunca foi tão pesado para esta gente que madruga vá-se lá saber para quê (“liberalismo”)
7 – Na Rua Carlos Cal Brandão (ao hospital militar) há a Embaixada de Angola, logo… Logo de madrugada, filas de pessoas (“retornados–ao–contrário”) amontoam-se para fugir para Angola (papéis e mais papéis…). Todos os dias. É ir e ver o 3º mundo em que se tornou o Porto. E o país.
8 – Por fim, abram o JN em “emprego” e vejam que só há prostituição, baixos salários, nenhuns direitos, trabalho braçal desqualificado, ofertas enganosas e impossíveis, “trabalho” para outros países até… “Emprego”? Não há.
Consolo: já só faltam 31 dias para Rui Rio se ir embora… Já só faltam 31 dias para Rui Rio se ir embora… Já só faltam 31 dias para Rui Rio se ir embora…