De: Pedro Figueiredo - "Este-Rui e aquele-Rui. Às boltas e boltas com o Bolhão."
Para fazer uma coisa simples, que é “apenas” reabilitar um edifício e manter a sua actividade a funcionar, abundam palavras ocas, vazias de conteúdo, mas cheias de populismo empresarial. Onde se lê “reabilitação” está e estará (uma e outra vez e todas as que forem precisas) “privatizar e expulsar as senhoras vendedoras de fruta, peixe e legumes”.
- ”TIMING e CONCERTAÇÃO” – Este-Rui e aquele-Rui (fotos 2 e 4 na mesma pose) estiveram a inaugurar o “novo” Bom Sucesso - o seu “modelo de destruição” para o Bolhão. Uns dias depois, aquele-Rui (aquele-Rui agora sozinho, já sem este-Rui) anuncia em público o seu projecto para o Bolhão – parece mesmo igual ao do consórcio TCN/este-Rui, rejeitado pelos portuenses e pelos tribunais. E pelo bom senso.
- “TRAÇA” (esse insecto). “O candidato independente à Câmara do Porto quer manter a traça e a função tradicional do mercado, mas dotá-lo de áreas de restauração, cultura e imobiliário, concessionando-o a privados.” Insecto e palavra usada quando não se percebe nada de Arquitectura. Também no Bom Sucesso / este-Rui se manteve a “traça”, mas destruindo a sua belíssima nave/espaço interior.
- “IMOBILIÁRIO” - É mesmo uma “valência” absolutamente imprescindível reivindicada pelas senhoras vendedoras? (“Sobretudo as do peixe, oh mor!”). Sem palavras.
- “REGENERAÇÃO URBANA” - Palavras usadas para matar a “reabilitação urbana”. Diz-se “regenerar” quando se quer “gentrificar”: usar a intervenção para “regenerar” é expulsar a classe social residente ao momento. “Um marco na regeneração urbana”, onde garante a manutenção da traça original e função tradicional do edifício”.
- “CONCESSÃO DE EXPLORAÇÃO” – Um clássico ultraliberal que vem logo a seguir para “corrigir” a destruição feita no Estado por governantes liberais (eles-próprios e os mesmos) “considera que o melhor modelo para o mercado é a concessão de exploração do edifício a privados como contrapartida da realização de um investimento”.
- “AUSCULTAR INVESTIDORES” - “garantindo já ter auscultado investidores que consideraram o projecto viável.” “Quem concessionar o Bolhão, vai ter que pagar uma renda à autarquia”. O Eng.º António da Mota (“Novo Mercado” Bom Sucesso) já apoia a outra direita - Menezes. “Este já está ocupado: Próximo!”
- “FUNÇÃO TRADICIONAL, SINERGIAS” – Vão ter também de aceitar as condições de arrendamento, quer das bancas, quer das lojas, defende a manutenção da “função tradicional” de mercado, mas quer dotá-lo de uma área de restauração, também ela tradicional, onde espera que haja uma “sinergia” entre restaurantes e comerciantes do mercado. Dois clássicos de palavras ocas continuamente repetidas por aí. Ouvidos atentos.
-“ÁREAS DE LAZER, FUNÇÃO CULTURAL”.”Pretende-se ainda dotar o Bolhão de uma área de lazer e de uma função cultural,” – Com tantas áreas e novas “valências”, claro que não haverá espaço para as senhoras que ainda resistem heroicamente no Bolhão. As do Bom Sucesso já foram vergonhosamente borda fora. É esse o modelo que este-Rui e aquele-Rui inauguraram. Palavras ocas, programas vazios e esvaziadores.
- HABITAÇÃO NO BOLHÃO”? Ilegal, o PDM não deixa “– Próximo!”. “O candidato quer ainda criar uma zona de imobiliário, com residências para estudantes – uma vez que há uma enorme carência no Porto – e residências para investigadores que vêm trabalhar com a Universidade do Porto.” Foi nisto que o projecto da TCN/este-Rui era ilegal. Conforme o PDM “aquilo” só pode ser para “mercado”. É difícil compreender-se isto quando se faz uma lista enorme de “valências”, “mixes”, “funções”. Já ouviram falar em “fruta, peixe e legumes?”. Bem me parecia que não. O projecto da TCN previa 7 pisos para habitação, coitado (“imobiliário” portanto).
- IR AO BOLHÃO DE CARRO. ”Justificando a opção de não construir estacionamento enterrado no mercado, Rui Moreira explicou que há 2.300 lugares na periferia, à distância de 5 minutos a pé.“ Já é o segundo a cair nesta esparrela (Pizarro do PS). Ninguém vai às compras de fruta, peixe e legumes de carro ao Bolhão (desde há cerca de 100 anos). É o discurso típico de e para quem anda de VCI na cidade e mora em periferias, sem fazer compras a pé de carrinho de mão como é usual.
- “MIXES, VERTENTES (ou valências) e GOURMET”. Outro vocabulário já clássico do circo que é destruir mercados que já têm um programa há mais de cem anos. (“Fruta, peixe, legumes, já ouviram falar? Em vez de “mixes, vertentes e gourmets”?… Bem me parecia que não.) Para o vice-presidente da Mota Engil, "está a ser conseguido um 'mix' entre o tradicional e a vertente 'gourmet'”.
- “NO ENTANTO NÃO REVELAR”. (Assim também eu.) “Não revelou preços relativamente aos espaços comerciais de loja e escritórios.“
- “E O POVO PÁ?” “E OS TRIBUNAIS, PÁ?”. A contestar a destruição deste-Rui desde 2008? “Decorrem em paralelo diversas acções para impedir que:
- - a Câmara Municipal do Porto entregue o Mercado do Bolhão a privados no período de 70 anos (50+20 anos);
- - os privados (empresa TCN), executem a demolição de todo o interior do Mercado do Bolhão, para a construção de um centro comercial, habitações de luxo e escritórios. Palavras do administrador da TCN, Senhor Engº Pedro Neves: "a demolição de todo o interior do Mercado do Bolhão é uma inevitabilidade para rentabilizar o investimento";
- - assinatura do contrato entre a C.M.Porto e a empresa imobiliária TCN se faça”.
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Nota de TAF: a pouco e pouco vou publicando os textos pendentes. As minhas desculpas pelo atraso.
Sobre este tema, notícia de hoje: CMP não vai usar o dinheiro que tinha para melhorar Bolhão.