De: Pedro Figueiredo - "Comércio urbano: pouco se fala deste (autêntico) desastre"
Rua de Sá da Bandeira, ao lado da Brasileira, mas podia ser em qualquer rua do Porto
Impossível passar e não reparar. Rua atrás de rua. Por vezes uma ou outra loja isolada, outras vezes várias lojas seguidas. Sobretudo neste ano 2 da troika (2012/2013) têm sido nesta cidade do Porto encerradas dezenas de lojas. Impossível passar e não reparar. Dói na alma. Dói e é visível. O Porto sempre foi uma cidade mercantil, com as ruas organizadas por “mesteres” (picaria, cordoaria, bainharia, mercadores). Cidade esta entrada em desgraça com a expulsão dos judeus (séc. XVI - D. Manuel I) e com essa expulsão toda essa judaica economia urbana também foi expulsa, mercantil e financeira (pré-capitalista), em detrimento da austera e conservadora / triste cidade/sociedade católica.
O pequeno comércio urbano no Porto é parte integrante e fundamental da IDENTIDADE desta cidade. E está a morrer. Aliás, está a ser assassinado. Não há nenhuma crise. Há uma austeridade provocada e esta austeridade, total e toda junta, toda de uma só vez está a assassinar o pequeno comércio, identidade do Porto. É calculado e é um assassínio. Não é um cataclismo natural, nem é acção municipal tout court. São as políticas nacionais e internacionais da direita europeia. E, sendo nacionais, apesar disso são um óptimo tema para “A Baixa” e a “questão autárquica que se avizinha”. E sendo internacionais e nacionais tocam directamente nas lojas e lugares por onde passamos. Todos os dias.
Não é possível falar de reabilitação urbana sem falar do assassínio do pequeno comércio. Nem é possível falar das suas causas e soluções sem pôr em causa o poder de compra que está a ser duramente retirado a quem trabalha e a quem não trabalha, o IVA que nunca devia ter subido para o pequeno comércio e subiu contra toda a lógica económica e social, a factura da electricidade que para os pequenos comerciantes é o fim da picada. Tudo junto e tudo ao mesmo tempo. Mete dó a estupidez de quem tomou o poder na Europa e em Portugal. Posto isto, fecham lojas atrás de lojas e entramos só para ver a loja e sem comprar nada. Às vezes até compramos uma coisa, com pena do comerciante… (ou meia coisa). O reverso do consumismo desenfreado é igualmente estúpido e igualmente neo-liberal. E esta hein?