De: Pedro Figueiredo - "Rui Rio decretou muros brancos"
1 – Rui Rio decretou “muros brancos”. Todo um novo maná de grafitters, toda uma nova escola de grafitti se prepara neste preciso momento histórico para repintar por cima das repinturas pintadas por cima dos grafittis originais. Sempre foi assim. A cidade evolui por camadas históricas, umas por cima das outras.
2 – O que as equipas de jovens “escuteirinhos bem intencionados e melhor ainda comportados” fizeram pode ser considerado tecnicamente de “grafitti”? Sim, se os historiadores de arte considerarem “grafitti” qualquer coisa como “grafitti branco sobre muro branco” ou “grafitti de uma nota só”.
3 – Entramos em casa e vemos a (autêntica) violação de caixas de correio que a CMP fez, ao entupir as nossas caixas de correio com a sua revista agit-populista (ver imagem). Saímos à rua depois de levar com umas 10 páginas de auto-elogio sobre a limpeza feita aos muros e damos de caras com um raro exemplar de magnífica arte urbana felizmente (ainda) preservado: “a baleia” (na rua da Boavista frente ao café Diu (ver imagem). Tomamos um calmante para acalmar a vontade (irreprimível?)de grafittar o edifício da CMP todo, do embasamento à cúpula cimeira da torre, por fora (e por dentro também sobretudo no gabinete de Rui Rio).
4 – E tudo o Rio levou. Imagino que a Herodes deve ter chegado aos ouvidos - pessoas que (realmente) andem a pé pelas ruas (e não de Mercedes 220D de 1964) – dito que a cidade estaria toda com “stêncil” a dizer “um Rio que só serve para fazer despejos é um esgoto” (ver imagem). Mas se é verdade? “- Ide e apagai. Não deixai grafitti sobre grafitti” terá dito Herodes.
5 – A barbárie é assim. Não tem olhos na cara. Foi tudo a eito. Foram murais do PCP e JCP (Rua de Cedofeita, Escola do Infante, Rotunda da Boavista). Foi esse mural contra a troika perto de São Bento. Foi tudo. O bom e o mau. O grafitti e o tag, o stêncil, o mural político e contestatário, partidário ou não… Tudo. Os muros estão brancos agora, estão prontos para uma nova era de grafitti. A nova vaga se alevantará. Avante, grafitters do Porto todo. Uni-vos!
(E não deixem de visitar o museu escondido do Grafitti por trás da Fábrica Social, perto das magníficas esculturas em ferro da Ana Carvalho.)