De: Pedro Figueiredo - "Graffiti nosso de cada dia"
Uma coisa que tem "o" graffiti é que não é "o" mas antes "os". "Os graffitis. Outra coisa que têm os graffitis é que, quer sejam bons quer sejam maus, são em geral "antes pelo contrário"... Não são causa (de problema), mas antes consequência (do problema e que problena)... Há graffitis porque há espaços mortos, vazios, não-lugares aos milhares. Não-vontades (muitas) em tomar a sério as reabilitações urbanas como o futuro da construção, única "saída" para o sector. Enquanto deus não opera milagres de regresso a mercados, nem os homens operam planos para saìr de crises. Planear está fora de causa. "A coisa há-de se resolver sozinha / o mercado é soberano / e perfeito mesmo quando imperfeito" (amen)
Entretanto, opera a lei do graffiti. Cada casa devoluta sinaliza-se a si própria, apontando o dedo às instituições: "tenho esta marca porque não me reabilitam", acusam as casas. As instituições perceberam e respondem de forma moral. Como sempre, artísticos ou vandalísticos, os graffiti São "ilegais". A resposta moral é apagar o mural.