De: Cristina Santos - "O amor cega!"
Uma coisa é gostar e amar o Porto, elegê-lo à qualidade de Cidade do nosso coração, compreender as suas limitações e as suas valias. Outra completamente diferente é partir do pressuposto que o Porto é uma Cidade de luxo, até pode vir a ser uma cidade de luxo, mas não o é na actualidade e tentar sê-lo só prejudica.
Os jovens estão dispostos a vir morar para o Porto, tudo bem, mas só um pergunta, estão esses jovens dispostos a pagar o tal factor luxo, que há partida só será visível daqui a 20 anos? É muito fácil dizer «quero morar no Porto, gosto do Porto», grande coisa, também eu gostava de morar em Paris, não sei é o que faria lá, nem sequer sei como arranjaria verba para lá adquirir qualquer coisa, mas gostar gostava.
Andamos todos a brincar às casinhas, esta boa intenção da Porto Vivo que ao invés de promover o direito à habitação, vende casas a jovens por 175 mil euros, nestas circunstâncias haverá proprietários de casa devolutas dispostos a baixar o preço dos seus imóveis, se a Porto Vivo garante que há mercado para esses valores?
E há de facto esse mercado? Se há, é um mercado interessante - disponibiliza um só produto, exorbita ao máximo o valor de mercado e minimiza o esforço do jovem com créditos hipotecários para toda a vida - haverá muitos clientes dispostos?! Era bom, mas há 12 anos que esperamos por esses Messias e ao que parece são cada vez mais raros.
Andámos 32 anos a promover o direito à habitação de pessoas sem qualquer rendimento que enfiamos em prédios sociais, e o resto dos habitantes?! Mentalizamo-os que um bocado de terra no Porto é um privilégio sagrado, um luxo que não consagra nem admite o direito à habitação própria, sem sequer o mercado de arrendamento.
Já sabemos que gostamos do Porto, não é isso que está em causa, o que está em causa é até onde vamos levar esse amor, vamos continuar a permitir que a habitação no Porto seja um luxo? Vamos continuar a permitir aos proprietários que se julguem no direito de nem sequer colocar um anúncio de venda num prédio que mantêm há 10 anos devoluto? Vamos continuar a dizer que o metro quadrado vale o que vale, porque é Porto, Cidade Central e de luxo? Vamos continuar a aceitar que nos digam que somos portuenses de 3ª porque não temos dinheiro para pagar uma casa na cidade onde nascemos?
E o Sr. Manuel Serrão que considera que não há um Porto definido, que as fronteiras acabaram, o que sugere para conservar a parte desse tal território que já não esta habitável, que tal um subsídio cultural para conservação de ruínas, parece-lhe bem?! Sim, porque concordo que tanto dá viver no Porto ou na Maia, não sei é como se mantém toda esta estrutura central sem receitas, talvez passarmos a ter uma só câmara na Maia por exemplo, porque não? É tudo igual, que diferença faz, se as pessoas não vivem no centro vivam nos arredores, deixem o centro para a cultura, para o luxo, para a aparência, sim, que diferença faz?!