De: Pedro Figueiredo - "Objectivamente, um despejo é um despejo é um despejo"
VELHINHAS QUE COMEM QUEIJO. “Sem que se perceba porquê, ainda hoje, as senhoras continuam sem entregar os elementos legalmente requeridos” (CMP) O que não é estranho para seres humanos normais, inteligentes e sensíveis “é estranho” para a CMP. A Dona Maria Emília de 79 anos (ex - Bairro do Monte da Bela) e a Dona Ilda de 70 anos (ex - Bairro do Cerco) são duas senhoras com idade para ser minhas avós. Qualquer um (não a CMP) sabe que as pessoas a partir dos 60 anos, esquecem-se de coisas, “de tomar os remédios” por ex., sobretudo, de cartas e burocracias, que qualquer um de nós faz os possíveis mesmo aos 40 por esquecer…
AS PESSOAS, MEROS RECEPTÁCULOS DE CARTAS E COMUNICAÇÕES. É assim que a CMP e a DOMUssOCIAL trata “de cima” as pessoas. Vem a 1º carta, vem a segunda, vem a terceira. Uma máquina de debitar cartas e procedimentos maquinais e automáticos. Até podiam vir 500.000 cartas. Continua a não haver humanidade e conhecimento das pessoas por parte da instituição "apesar de todas as diligências efetuadas pela DomusSocial, tanto a nível das insistentes notificações enviadas, como até no alargamento de diversos prazos legais ao longo de todo um período de tempo superior a dois anos." (CMP) Não conhecem as pessoas, nem as “sinalizam” ou acompanham socialmente. Este trabalho social mínimo é uma coisa extraterrestre para a DomusSocial. Assim sendo, acontecem coisas como "Eu não sei se entreguei ou não, porque ia lá e faltava uma coisa e depois faltava outra. Perdi o primeiro papel que me deram e não dizia que dava despejo. Eu ia a pé com a papelada até lá e uma vez pediram-me um papel que não existia", contou ao JN o filho que vive com Maria Emília”
OBJECTIVIDADE. Em causa está o facto de as moradoras sobre as quais recaiu a ordem de despejo não terem apresentado a documentação comprovativa dos seus rendimentos” (…) “foi um reiterado incumprimento na apresentação desses comprovativos, entre os quais a declaração do IRS, recibos de vencimento e prova efetiva de ocupação do fogo” (CMP) Qualquer que fosse a “razão”, aliás. Eticamente não há razão razoável que justifique um despejo. Nem preciso invocar o direito à habitação presente na Constituição. Basta invocar a ética humana mínima. Só gente reaccionária é que invoca “legalidades” qualquer que estas sejam para com isso poder despejar velhinhas, ou gente de qualquer outra idade. Jean-Luc Godard dizia sobre objectividade: “O que é objectividade?” “Cinco minutos são cinco minutos. Cinco minutos são cinco minutos para um nazi ou para um judeu.” Um despejo são 5 minutos para a polícia e são cinco minutos para a Dona Maria Emília de 79 anos (ex - Bairro do Monte da Bela) e a Dona Ilda de 70 anos (ex - Bairro do Cerco).
UM PAPEL É UM PAPEL É UM PAPEL. UM DESPEJO É UM DESPEJO É UM DESPEJO. A Dona Maria Emília de 79 anos (ex - Bairro do Monte da Bela) e a Dona Ilda de 70 anos (ex - Bairro do Cerco) tinham quatro paredes, agora vivem na rua ou à mercê da caridade de outros. Se esta existir.
“OS QUE REALMENTE PRECISAM”. A moral da direita e os bairros sociais são um case-study de psicopatologia. Quanta gente de direita diz que jura que sabe que conhece sempre alguém que vive em bairro e não precisa, esse alguém terá – dizem – um Mercedes e viverá – dizem – em casas “pagas com o dinheiro dos nossos impostos”. Por seu lado, suponho que a Dona Maria Emília de 79 anos (ex - Bairro do Monte da Bela) e a Dona Ilda de 70 anos (ex - Bairro do Cerco) sejam pessoas então “que realmente NÃO precisam e por isso foram despejadas.
VOLTARAM AO ANTIGAMENTE, OBJECTIVAMENTE. “Foi o filho José Manuel quem a levou para a nova habitação, uma casa minúscula numa ilha na Rua de Maceda, perto do Bairro do Cerco, para lhe poupar o desgosto de assistir à mudança” (JN). Mas é claro que a habitação social é paga com o dinheiro de todos e serve para todos e qualquer um, a partir do momento que este alguém precise: ontem a Dona Maria Emília de 79 anos (ex - Bairro do Monte da Bela) e a Dona Ilda de 70 anos (ex - Bairro do Cerco) precisaram de habitação social, amanhã posso ser EU a precisar e terei esse direito também, pago obviamente por todos em geral e por mim próprio em particular. De outra forma não poderia ser. No entanto, historicamente, estes bairros camarários do Porto são Salazaristas e portanto são anteriores ao
DIREITO DEMOCRÁTICO À HABITAÇÃO, tendo sido feitos para controlo social dos mais pobres (o célebre regulamento fascista dos bairros que estará de volta em breve pelas mãos deste executivo), expulsando as pessoas para os subúrbios e para a ghetização das suas vidas.
ALEIXO - A CONSPIRAÇÃO QUE VOS DEIXO. Como sabem, o Bloco de Esquerda é um partido – ao que dizem – “radical”. Adoramos “teorias da conspiração” no Bloco. Aliás. Estas “teorias” em geral assentam como luvas nestes executivos municipais de direita que as levam na prática o mais longe possível: contem por favor o número de habitações camarárias vazias. Agora contem o número de apartamentos ainda habitados das torres do Bairro do Aleixo. A diferença entre ambos os números é o número de despejos que a CMP “terá” de fazer com este tipo de manhas e regulamentos para poder “realojar” as pessoas do Aleixo, conforme prometido aos especuladores imobiliários naquela negociata das suas vidas… simples não é? E “uma boa teoria da conspiração” também. E um claro…
…APROVEITAMENTO POLÍTICO DO BLOCO DE ESQUERDA. “Face ao aproveitamento político que alguns partidos decidiram fazer de dois despejos nos bairros sociais do Cerco do Porto e do Monte da Bela” O meu partido, o Bloco de Esquerda, fez muito bem em “politizar” este caso. Politizamos o que já é político, por natureza. O direito a ter uma casa sem ser despejado desta é uma questão políica das mais vitais. Não as pontes entre Gaia e Porto, ou a pseudo-fusão entre estes municípios com que a direita quer distorcer as questões vitais na próxima campanha eleitoral. Pessoas de direita, ide falar da importância vital para a cidade das pontes entre Gaia e Porto à Dona Maria Emília de 79 anos (ex - Bairro do Monte da Bela) e a Dona Ilda de 70 anos (ex - Bairro do Cerco). E pelo caminho chamem-nos, ao Bloco, de “populistas”, por favor. (Gosto e agradeço este tipo de populismo que é a favor de “IL POPOLO”)
Só há uma coisa a fazer: parar já com os despejos e realojar as pessoas despejadas.