De: Judite Maia Moura - "Escarpa do Rio Douro III"
O sonho de vir a ter um percurso de sonho
Continuando o nosso percurso, estamos agora na zona das Pontes São João e D. Maria, que entram na Escarpa a uma distância muito pequena uma da outra. Praticamente por baixo da Ponte São João, na Marginal, portanto no nosso lado esquerdo, podemos ver a chaminé e dois gigantescos fornos da antiga Fábrica de Louça de Massarelos, tudo o que resta desta fábrica que produzia azulejos e louças sanitárias, e que foi demolida aquando da construção da Ponte São João. Em contrapartida, no lado direito existem alguns patamares, na sua maior parte com vegetação invasora, que poderiam, no mínimo, ser cultivados.
Mais um pouco de caminhada, com uma pequena parte por dentro de um túnel, e, logo à saída deste, estamos a passar por baixo da Ponte D. Maria, com toda a beleza do seu trabalhado. Lamentavelmente, ao longo da linha férrea existem fossas, sem tampa, algumas delas completamente desprotegidas, ora visíveis, quando a vegetação está seca, ora completamente escondidas quando a vegetação cresce, tornando-se ainda mais perigosas. Não conseguimos saber para o que são essas fossas. Numa das nossas caminhadas encontrámo-las tapadas com protectores de obras e, na única que estava destapada, pusemos-lhe em cima uma carcaça de televisão que encontrámos um pouco mais adiante; seis meses mais tarde, quando lá voltámos, a carcaça ainda estava no mesmo lugar…
Do nosso lado esquerdo podemos ver, em baixo, entre a linha férrea e a Marginal, uma casa em muito mau estado, mas habitada, ladeada por alguns terrenos abandonados, mas que poderiam também, certamente, ser transformados em desejáveis e apetecíveis hortas urbanas, de fácil acesso. No nosso lado direito apenas se vê uma grande altura de muros e vegetação, mas sabe-se que, lá no cimo, está o bonito edifício do Colégio dos Órfãos do Porto, fundado em 1651 pelo Padre Baltasar Guedes, que ainda hoje dá o nome ao largo onde o colégio se situa.
Continuando pela linha férrea, vamos encontrar uma pouco mais à frente, novamente do lado esquerdo, na encosta, outra casa habitada e razoavelmente conservada, também ela seguida de verdadeiros campos agrícolas não cultivados. E, mais à frente ainda, na própria linha férrea, um correr de mais três casas, o chamado Bairro da Aguada. Mas, para sabermos o que são aqueles muros e ruínas que se vislumbram da linha férrea, perto da Ponte D. Maria, temos, de facto, de ir mesmo pelo Largo do Padre Baltasar Guedes, e aí começa já a degradação da Escarpa: armazéns e terrenos abandonados, uns certamente privados e outros, pelo que nos foi dito, são mesmo pertença da Câmara Municipal do Porto.
Daqui, deste largo, onde encontramos também a entrada principal do Cemitério do Prado do Repouso, descemos então a Rua Gomes Freire, também ela paralela ao rio. Logo ali, do lado direito, um muro alto, com um grande terreno por detrás, terreno este que pode ver-se bem do ângulo desta rua com a Rua de São Vítor, ‘possuidor’ em 2010, de uma grande lixeira. Do lado esquerdo existem ainda os lavadouros públicos, aparentemente pouco ou nada utilizados nos nossos dias, mas com uma vista soberba para o rio.
Continuando a descer, e logo ao desfazer da curva, encontramos duas ilhas, do lado esquerdo, que são do mesmo proprietário do terreno grande em frente aos lavadouros. Têm entradas separadas, e poder-se-ia chamar-lhes, também a elas, a irmã pobre e a irmã rica – a primeira entrada tem, de facto, um aspecto degradado, enquanto as casas da segunda entrada estão bastante bem conservadas. Por esta segunda entrada, temos igualmente acesso a uma meia dúzia de casas, umas em melhor estado do que outras, todas elas igualmente habitadas, que existem do outro lado da linha férrea. Desconhecemos se também estas casas são propriedade do mesmo senhorio das ilhas. O acesso a estas casas é feito por uma passadeira em madeira, bem à moda antiga, que atravessa a linha férrea actual.
Saindo novamente das ilhas, e continuando um pouco mais para diante, mais uns metros à frente, aparece-nos a entrada para as escadas da Aguada, com 155 degraus contados por nós, onde uma nova fase, muito pior do que até aqui, vai começar.
... Publicado também no site da AMO Portugal. Ver álbum de fotografias aqui.