De: Pulido Valente - "Aos que são sérios e responsáveis"

Submetido por taf em Segunda, 2012-12-03 13:37

No exercício da cidadania a que somos obrigados, a grande dificuldade na comunicação é saber onde estão aqueles com quem ainda se deve estar em contacto e, com eles, tentar fazer alguma coisa de útil para os milhões de desgraçados que precisam de ajuda. Há muito tempo que penso que os donos do dinheiro têm absoluto controle sobre a generalidade das pessoas pois pagam-lhes para que elas comprem o que eles põem à venda e, se sobra algum, recebem nos bancos o dinheiro que é deles e só foi emprestado para que as gentes produzam e façam filhos que as substituem. Assim mantêm os escravos que para eles trabalham com a certeza de que a mão de obra não vai faltar. As pessoas julgam que vivem e fazem as escolhas que querem para governar as suas vidas.

Por esta razão nunca me juntei a nenhum grupo organizado que pretenda fingir que pode tomar o poder ou de alguma maneira condicioná-lo. No entanto tenho tido sempre vontade de lutar contra esta situação de escravatura generalizada tentando contribuir para que outrem abra os olhos para a situação de dependência e falta de liberdade que está instalada. Só que os nossos donos tiveram tempo para nos arregimentar sob diversas formas de domínio quer nos empregos quer na cultura quer no desporto quer nas nossas horas livres. Estamos escravizados como as bandas desenhadas de há cinquenta anos previam, só que não foi necessário sermos invadidos pelos extra-terrestres que era como eram desenhados os nossos escravizadores.

Nesta altura não há emprego em que a inveja e a traição, juntamente com a competitividade mais grosseira e de baixa qualidade moral, não esteja instalada. As chefias, que são melhor remuneradas para se responsabilizarem pela boa qualidade do serviço ou do trabalho, não passam de capatazes incompetentes e sem responsabilidade ética e profissional que se limitam a dominar e controlar o rebanho dos subalternos para que estes vão mantendo o serviço ou trabalho no mínimo do aceitável. Ninguém ao nível das chefias se importa em formar, ajudar ou promover os colaboradores e cada uma delas está mais interessada em se safar em relação àqueles que lhe estão acima (há chefias e direcções; vereadores e presidentes; partidos, máfias, opus e pedreiros) de modo a manter o lugar para conservar os privilégios alcançados sabe-se lá como. Há tantas maneiras de lá chegar...

Assim sendo grande parte das pessoas deste mundo está completamente alienada e desmotivada para tudo o que não seja sobreviver com a vidinha que tem e, como os nossos donos não têm nenhum interesse em que sejamos cultos e saibamos pensar pelas nossas cabeças, vamos sendo submergidos pelas coisas rascas e ignóbeis que eles nos deixam/fazem consumir. É pois óbvio que a cultura do país está dominada de maneira a impedir que as pessoas pensem por si e tenham condições e conhecimentos que lhes permitam ter opinião própria e capacidade (e até possibilidade) de organização e contestação. As coisas estão tão bem feitas que as leis já não servem senão para que a situação esteja controlada pois desapareceu a clareza e simplicidade que permitiria um fácil e justo julgamento. As regras da "cultura" imanente são impostas pela uniformização e pela supressão das manifestações que poderiam abrir perspectivas para novas vias, modelos ou alternativas.

Consciente e voluntariamente criaram-se escolas que são negócios onde os professores são os capatazes que têm como função fazer com que o sistema funcione como previsto sem que se preocupem com a condição dos que estão a trabalhar sob as "suas ordens" e sem terem vontade de ajudar o aluno como deve ser a sua prioridade; juízes que são funcionários e, portanto, não são independentes embora quanto mais alto estejam na hierarquia/carreira mais autocráticos se tornem - de resto até na magistratura se encontram os esquemas criados para que o resultado do trabalho não seja o que devia ser; médicos, advogados, arquitectos, etc. que não estão na profissão para outra coisa que não seja gerir os seus negócios com a criação de "firmas" que podem agir no mercado como as regras deontológicas, se respeitadas, não lhes permitiriam.

Peço pois que, quem souber mais do que eu, me diga como hei-de fazer para ser útil aos que estão pior.

JPV