De: José Ferraz Alves - "A Regionalização da Mobilidade Pública"

Submetido por taf em Quinta, 2012-11-29 23:33

Na semana em que as salas de conferências se encheram para a apresentação de mais um Plano Estratégico, agora um para o Douro Sul, somos confrontados com a decisão da “Douro Azul” em abandonar o segmento das viagens de um só dia entre a foz do Douro e a Régua/Pinhão, para se concentrar nos programas de maior duração a bordo dos seus navios. Nestes, os seus turistas não colocam o pé no chão Douriense sem a sua devida monitorização. Quem a critica? O relato dos episódios das “parcerias” com a CP é anedótico de incompetência e desleixo em relação a esta Região e ao seu potencial de desenvolvimento, desde horários descoordenados, composições vandalizadas e sujas, passageiros apeados ou amontoados… Nunca aqui houve uma Parceria Público Privada virtuosa.

De facto, quase contra tudo e todos, o Douro continua a puxar pelas pessoas e pelo investimento privado, pese embora o silêncio e omissão de quem deve zelar pelo interesse público. O museu do Côa deve ser o único no mundo que tem a particularidade de distar, respectivamente, 3 e 4 horas de duas cidades que têm mais de 300 kms entre si. Quem sai de Lisboa precisa de 4 horas de carro para lá chegar. Do Porto, 3 horas! Agora, serão cerca de menos 45 mil passageiros por transporte de ferrovia entre o Porto e a Régua, que era o efeito induzido pela Douro Azul. O próprio risco da CP fechar definitivamente a linha do Douro aumenta, pelo que receio mais um articulado da “Troika” que exija um certo rácio mínimo de passageiros/viagem para a sua manutenção… Fantástica “Troika” esta, que tudo sabe, tudo vê e para tudo tem solução já escrita… Esta tem sido a orientação da CP em relação ao seu produto: degradar a sua oferta e assim afastar a procura, para depois, pasme-se, justificar pela falta desta o encerramento das linhas ferroviárias! Neste caso da Douro Azul e CP, simplesmente, nunca nesta houve quem pudesse decidir sem pedir opinião à sua hierarquia de chefes, no regime centralista que tudo asfixia e burocratiza.

De facto, este é um Norte de documentos estratégicos. Depois, no dia-a-dia, não há coordenação, poder de decisão, diálogo e colaboração. A falha de fundo tem a ver com a falta de poder na Região Norte. Por isso sempre defendemos a necessidade da descentralização das decisões, não só as do Estado Público-Administrativo, mas também as destas Empresas Públicas de âmbito nacional, que mandam a partir dos “Google Maps” instalados no centralismo do Terreiro do Paço. Faz sentido a concentração regional destes meios de transporte, aeroportos - portos - caminho de ferro, numa única holding pública regional gerida, no caso Norte, pela Área Metropolitana do Porto. Aí, os proveitos de uns financiariam os deficits de tesouraria e os investimentos dos outros. Os lucros do Sá Carneiro e do Porto de Leixões pagariam a modernização do caminho-de-ferro, bem como a expansão e os deficits financeiros – que não operacionais – do Metro do Porto e dos STCP. Esta é uma reforma do Estado de que precisamos, que potenciaria uma maior colaboração com o dinamismo dos promotores privados. Não será possível sairmos deste buraco sem medidas diferentes.

José Ferraz Alves
MPN - Movimento Partido do Norte