De: Augusto Küttner de Magalhães - "O estado de abandono a que chegou o Porto"
Qualquer cidadão portuense ou não, que o possa fazer, deve dar uma volta a pé no centro do Porto, talvez começando pela Rotunda da Boavista e descendo até à "baixa". E feito tontinho, o que hoje ninguém nota dado que anda tudo com um ar totalmente desnorteado, olhar para os prédios, para cima do rês-do chão. Andar de cabeça no ar.... Tudo abandonado, tudo a desfazer-se. Logo ali no início de Júlio Dinis, mais abaixo também, em frente às Urgências do St. António igual. Rua Mouzinho da Silveira mais do mesmo - se bem que aí foram feitas algumas reabilitações -, mas está tudo lindo mas desocupado.
Avenida dos Aliados, a parte superior dos prédios parece que vai desabar. Onde em tempo a Mabor teve escritórios, e a ITA, tudo ao abandono. No Edifício dos Correios, igual em grande parte. Depois Sá da Bandeira, Sta. Catarina, Bonjardim... e chega! Está tudo abandonado, está tudo a cair. E com esta santa crise, continuarão a fechar lojas, e continuará o Centro Histórico do Porto a morrer a cada dia que passa. E com a vontade que há de matar os velhos, os grisalhos, que são os poucos que ainda vivem no Centro do Porto, tudo vai morrendo! Tudo! Excepto no Botelhão com tudo com os copos à noite a embebedar-se, a urinar por tudo que é sítio... na maior!
Quando se sonhou que eramos ricos e iríamos viver para os subúrbios, com qualidade de vida, jardins, balouços, piscinas, foi tudo tão lindo e abandonámos o centro do Porto, até a Júlio Dinis, e já Avenida da Boavista abaixo, e matámos o Porto. E agora fica caríssimo viver nos subúrbios por não haver dinheiro para os transportes - para nada de nada - para chegar em filas permanentes ao Porto. E não há tempo nem vontade de quem se passou para os subúrbios de lá aproveitar a beleza local, nos ditos subúrbios. Quando a tinha - beleza e espaços - no Porto, na beira mar, na beira rio, no Parque da Cidade, na própria Baixa.
Hoje, amanhã, nunca mais vamos recuperar nada do que se perdeu. Não temos euros para o fazer. Mas talvez esteja chegado o momento destes tantos políticos e adjuntos que daqui para ali e dali para aqui se eternizam - e nos infernizam - em todo o lado, com clareza, humildade, dignidade nos explicarem o que não vão fazer, em vez de prometerem o céu, quando nem a terra sabem poder dar.
Nota: há mais neste País e "lá fora", justifiquem-se e sejam sinceros, todos! Mas estamos, hoje e aqui, aflitos com o Porto...