De: José Ferraz Alves - "Acções de reabilitação para o Bolhão"
Em puro desespero, os comerciantes do Mercado do Bolhão admitem lançar um peditório europeu para salvar da ruína este mercado. Esta intenção é uma bofetada em todos nós, que escrevemos e falamos sobre o Porto e que tão pouco fazemos. É assim tão difícil assegurar a cobertura financeira para um projecto marcadamente vencedor como este? De colocar a nossa jóia a brilhar novamente?
Estive há poucos meses no mercado municipal, friso o municipal, Sant Josep de La Boqueria em Barcelona. Nada a ver com o potencial do nosso Bolhão, mas este estava repleto de cor, de movimento, de turismo, de negócios. Em Barcelona faz-se, aqui inauguram-se seminários e debates. Em oratória construímos já dezenas de Porto’s. Mas que bloqueios são estes, da Câmara do Porto, com os nossos mercados? Foi-se o Ferreira Borges, para um cinzento e frio espaço que não aquece nem atrai os portuenses, muito menos os visitantes. O do Bom Sucesso para mais um hotel com uma galeria comercial, de um gosto e respeito pela história da nossa cidade muito criticável. Não é distintivo, não marca a cidade. O da Foz, vai para uma futura clínica dentária (ironia, note-se)?
Já tinha escrito não perceber a facilidade com que os nossos responsáveis bloqueiam perante os obstáculos. Ao nível da Porto Vivo é só choradinhos, acusações, revoltas. Ninguém se lança pelo mundo fora à procura de investidores. Lembro que o centro de Berlim foi recuperado, em última instância, pela Fundação Mercedes, que encontrou aí o seu mais rentável projecto. Há quem até invente ilhas artificiais por não saber o que fazer aos fundos que tem. Há accionistas de bancos portugueses que reabilitaram cidades espanholas. Os obstáculos existem para ser contornados, para se encontrarem opções. Será que tudo passa por despedir, cortar, fechar? Começo a achar que muitos chegam ao papel de decisores sem de facto estarem preparados, porque a vida foi-lhes sempre demasiado fácil e todos os nãos que ouvem levam ao seu amuo.
Com apoios do QREN e do Programa Jessica, é assim tão difícil reabilitar um Mercado como o do Bolhão? Que mesmo que custasse 20 milhões de euros, a pagar em 15 anos, seria uma prestação mensal de 130 mil euros, cerca de 60 cêntimos/mês para cada habitante do Porto? Com os fundos do QREN, 75% a fundo perdido, são 5 milhões de euros de financiamento a 15 anos, 35 mil euros/mês, 15 cêntimos/mês por cada portuense? Faz sentido o Porto apoie os comerciantes do Bolhão e que todos nós façamos uma subscrição de acções de reabilitação. As receitas vindas de clientes, turistas e de quem prefere o comércio tradicional, serão mais do que suficientes para estas necessidades de reembolso financeiro. E o passado, tal como o futuro, estão no comércio de rua.
Vamos reconstruir este mercado, vamos ser parceiros do Bolhão. Já sou sócio do FCPorto, porque não do Mercado do Bolhão, não é igualmente uma pérola mundial? Não podemos é deixar que a miséria chegue também aos nossos sonhos e projectos! Isto já é doença.
José Ferraz Alves
Movimento Partido do Norte