De: Daniel Rodrigues - "Preconceitos"
Pedro Figueiredo levanta questões interessantes sobre alegados preconceitos com pósconceitos. O mais interessante, e apenas contestarei este, é a ideia de que se paga "três vezes ao banco por uma casa que vale um". Ora, não obstante muitos bancos fazerem disparates tremendos, é inconcebível continuar a distorcer o único produto que genuinamente é compreensível, faz sentido, e onde os lucros não são irracionais: o crédito à habitação. Para esclarecer, faço uma pergunta ao Pedro. Quantas casas podia comprar em 1980, pelo preço de uma casa hoje em dia? Mesma localização, mesma construção, etc.? Ponha-se agora no papel do banco, que emprestou em 1980, e que só recebeu três vezes o montante inicial hoje. Quantas casas pode comprar o banco hoje?
A minha resposta será que a diferença estará na ordem de pelo menos 10 vezes, com os dados de que disponho para casos concretos. Evidentemente, no passado, também se pagavam mais casas, mas este é o negócio dos bancos: permitir, por um lado, que as pessoas poupem dinheiro sem perder valor para quando precisarem de o usar no futuro. Por outro, permitir que as pessoas usem hoje dinheiro que só vão ganhar no futuro. E sim, cobram comissões no processo, os empregados bancários também merecem ganhar o seu sustento, ou não? O Pedro, enquanto faz gestos obscenos, esquece esta verdade elementar: pediu emprestado, só vai pagar muito mais no futuro. Vamos fazer um acordo? Acertamos hoje que me faz um projecto de arquitectura por 5000€. Eu comprometo-me a pagar-lhe, em 30 anos, 3 vezes o valor actual, sem juros. O Pedro vai julgar que é um negócio tremendo: pago-lhe 40 euros por mês durante 30 anos. Mas para pensar o que realmente eu lhe estou a pagar, coloque-se em 1980. Tinhamos acertado um projecto de arquitectura por, vá lá, 100 contos, 500 euros. Coloque-se daqui a 30 anos. Os tais 40 euros que não eram um mau negócio, são afinal apenas 4€ por mês. Faz-me um projecto de arquitectura por 4€ por mês? Aliás, fá-lo-ia por 40€ por mês?
Cumprimentos,
Daniel Rodrigues
Ps: E siga mesmo a sugestão do Tiago, e leia as respostas ao José Vitor. O Estado está mesmo falido. E continua a usar crédito como se não houvesse amanhã.
PS2: Quanto à devolução da casa para saldar a dívida, concordo com o Pedro. Os bancos não avaliaram o seu risco correctamente. No entanto, o que as pessoas esquecem é que a conclusão lógica desta necessidade, uma avaliação mais cautelosa dos riscos, teria implicado menos facilidade no acesso ao crédito, e clamores de "injustiça", por uns terem acesso a capital e outros não. Mas estas são contas de outro rosário.