De: Pedro Figueiredo - "«Gorgulho» e Preconceito"
Pré-conceito 1: “A nova lei do arrendamento promove a reabilitação urbana”. Não promove. Em lado algum da nova lei existe uma alínea que obrigue os aumentos previstos a reverter para um “Fundo de reabilitação” público ou privado. Trata-se apenas de “aumentos e ponto final”.
Pré-conceito 2: “Há Arquitectos a mais”. Não há. Há Arquitectos a menos para as necessidades de Reabilitação Urbana – pública ou privada – que não anda para a frente e em força, quer uma quer outra…
Pré-conceito 3: “É normal um Arquitecto ser recibo verde porque a profissão é liberal”. Não é. É liberal a relação que um Arquitecto tem com um seu cliente. A partir do momento em que esse Arquitecto emprega outros Arquitectos, a sua relação é sempre “de contrato” e de “empregado/empregador”. Custe o que custar, a prazo ou a termo, dura lex sed lex.
Pré-conceito 4: “O mercado (imobiliário/arrendamento) regula-se a si próprio pelas leis da oferta e da procura”. Não regula. O “crédito ilimitado” foi um complemento dos baixos salários. Permitiu aos imobiliários poder manter os preços médios de venda o mais alto possível, em qualquer zona ou contexto e independentemente da oferta e da procura… e de qualquer ética.
Pré-conceito 5 “A transformação do mercado Novo / Compra e venda a crédito para Reabilitação/Arrendamento é uma normal consequência da adaptabilidade do mercado”. Não é. O mercado (imobiliário, por exemplo) é tudo, menos flexível. É um enorme elefante que só pára e muda após uma ruptura. É desequilibrado até à exaustão de recursos: ainda se constrói mesmo sem clientes, mesmo sem território… (bastava haver crédito, ainda que falso…)
Pré-conceito 6: “Aumentar o preço de transportes públicos faz sentido (por causa da crise)”. Não faz. O transporte público é, em qualquer situação, um enorme subsídio do Estado à economia. A sua existência facilita imenso a implementação de qualquer empresa, “permite” inclusive baixar salários, torna qualquer localização empresarial apetecível e auxilia a deslocação dos trabalhadores. Os impostos sobre as empresas deveriam em parte reverter para um fundo de financiamento das empresas públicas de transporte!
Pré-conceito 7: “Aumentar o preço de um bem leva a que esse bem seja mais transaccionável”. Claro que não. No entanto,diz-se que o aumento das rendas coloca o aluguer em vantagem competitiva face ao mercado (caro) do crédito… Isto não tem, em si, lógica nenhuma. Para além do mais, abram as páginas dos jornais e vejam os preços elevados de mensalidade que pedem por contratos novos de aluguer (já não são competitivos face ao crédito sequer), e saibam também que só 1/3 dos contratos de aluguer são antigos e portanto, o mercado não está assim tão distorcido…
Pré-conceito 8: “O Estado está falido”. Não está - dizer esta “enormidade” é hoje a melhor maneira de acabar uma conversa mesmo antes de esta começar. É uma frase bombástica que arrasa argumentos e petrifica povo e adversários. É o fim da democracia e é totalmente inaceitável aceitar sequer essa ideia. Onde está, de resto, a auditoria à dívida, devemos quanto, a quem, em que condições?... Que prova (ou não que o Estado está ou não, falido? E porque é que nunca a quiseram fazer?
Pré-conceito 9: “Somos um país de proprietários”. Não somos. Somos um país de pessoas dependentes do crédito porque para tal fomos empurrados pelo sistema financeiro (ratoeira) e pelo sistema económico (baixos salários). É uma afirmação moralista. Ser-se dono da sua casa não é um privilégio só para a Burguesia… Não vivemos acima das nossas possibilidades, porque para obtermos uma casa pagamos a um banco três vezes (3) o valor dessa casa e somos escravos uma vida inteira para a pagar…
Pré-conceito 10: “Um bem que valha «xis» é comprado e vendido por esse preço de «xis»”. Não é. A direita no poder (Banca, governo, FMI, PSD, etc.) quer que a gente continue a pagar “3” ao banco por uma casa que vale “1” e que, na altura de devolver o objecto-em-si para cobrir o seu valor, não só “1” já não vale ”1”, como ainda teremos de dar mais 0,3 ou 0,4 para devolver esse objecto que vale-o-que-vale (vale “1”…). Devolvemos a casa ao banco e ainda temos de dar dinheiro… (…gesto obsceno de 4 dedos fechados e o dedo do meio bem levantado).