De: Marcos Correia - "Reabilitação Urbana"
Algumas das desculpas para o relativo pouco interesse em residir na Baixa, além da degradação urbana, prendem-se com aspectos que áreas mais recentes e modernas da cidade do Porto disponibilizam aos residentes, nomeadamente estacionamento, espaços verdes, espaços de lazer e acessibilidade (referente às vias rápidas). Este paradigma estará actualmente a ser ligeiramente modificado em virtude de a geração jovem actual assumir que um smartphone com ligação à internet e às redes sociais é um passo maior na sua independência e autonomia que o carro, ou de estudos americanos recentes, em que se prova que o processo urbano de suburbanização está se a inverter, com o retorno lento da população às cidades. Assim, talvez, o estacionamento e acessibilidade não sejam, no futuro, factores tão importantes na reabilitação urbana da Baixa do Porto, a considerar os dois factos anteriormente referidos, e por isso a minha ideia para a Baixa portuense reflecte-se nesses factos, entre outros.
Acima de tudo parto da premissa de salvar a maioria do imobiliário urbano em detrimento da recuperação total da Baixa, se se quer dar ao centro urbano portuense a qualidade de vida a que normalmente se aspira na periferia e nas áreas suburbanas e periurbanas. Darei um exemplo completamente abstracto para explicar o que se pretende: num quarteirão com cem fogos, divididos igualmente por vinte edifícios, em que todo o quarteirão precise de ser reabilitado (uns edifícios mais que outros) sugiro a reabilitação de 14 a 16 edifícios (70 a 80 fogos)*, sendo os mais degradados e ou com menor valor histórico parcialmente demolidos, mantendo-se apenas a fachada para dar a continuidade à traça urbana, podendo ser construindo atrás da mesma fachada infra-estruturas que possam aumentar a qualidade de vida fornecida e assim atrair população residente. Essas infra-estruturas no novo quarteirão seriam um pequeno espaço verde, um parque infantil, um parque de jogos, uma horta urbana, uma pequena praça para agregar a comunidade e, por fim, parque de estacionamento, de dimensões reduzidas, pois estas novas comunidades, bem como a nova lógica da Baixa deveria ser direccionada para o peão, ciclista e o utilizador de transportes públicos, potenciando e ampliando o micro-cosmos que acontece actualmente nas Galerias de Paris, Túnel de Ceuta, Piolho, Carlos Alberto, em que o interage não é só noite e copos, mas também criatividade, larga oferta cultural, num constante feed-back entre pessoas, o buzz social, que enriquece a cidade, que estimula novos negócios e empresas, que, por fim, cria movimento, dinâmica, cria vida e projecta a cidade.
Claro que outras infra-estruturas podem e devem ser analisadas para instalação no respectivo quarteirão, cada caso é um caso diferente, que apesar de dever estar enquadrada numa lógica global, deve seguir os seus parâmetros e as suas especificidades. Acredito assim no futuro do centro urbano, da cidade, da Baixa e do Porto, acredito ainda que muito se falará da Invicta e o quanto contribuiu para uma possível revolução urbana em Portugal.
*Os números referidos no exemplo não serão certamente os mais correctos, servem apenas para dar uma perspectiva da ideia que se pretende transmitir.
Marcos Daniel Fernandes Correia