De: José Ferraz Alves - "Por favor, entenda-se por crescimento, desenvolvimento…"

Submetido por taf em Quarta, 2012-05-23 19:32

“O crescimento é extremamente importante para fazer reduzir as pobrezas. Mas pensar que a única forma é a promoção do crescimento leva os responsáveis pela implementação destas políticas a percorrer o caminho teórico e mais curto, a construção de infra-estruturas que promovam a industrialização e a mecanização. Não passa pelos responsáveis pelas políticas que essas mesmas instituições possam estar a contribuir para criar ou manter a pobreza. Acresce outro problema, que está no canal que se utilizam para seleccionar e implementar projectos, dado actuarem exclusivamente através das redes que conhecem. Aqueles que definem as políticas não conseguem ver outros como actores intervenientes. Para ter um verdadeiro impacto estes doadores deviam estar abertos a todos os segmentos da sociedade civil, que se encontra fora dos governos.”

Inspirado em Muhammad Yunus (criador do micro-crédito e das empresas sociais)

Um dia, alguém disse que e a Europa iria cometer todos os erros até acertar na política a seguir. Andamos um ano e meio a falar em equilíbrios financeiros, desaceleração económica e a promover a queda do rendimento disponível das classes média e baixa. Estava mais em causa o tipo de despesa que se fazia no Estado e nas Empresas e não propriamente o seu valor absoluto. O erro de qualquer Economia é quando começa a cortar nos salários, não os vendo como a fonte das vendas e dos vários impostos que depois se cobram e são receita do Estado. Aliás, a única razão porque se investe tanto na China é por ser um país de consumo, não de baixos rendimentos de produção.

Há uma corrente, liberal, instalada num Partido que tem no seu nome a Social-Democracia, que defende que o emprego é criado pelas classes de rendimento mais elevado e pelo investimento que fazem. Daí defender a não aplicação de impostos sobre as classes de rendimento mais altas. Nada mais errado. Esse dinheiro é retido e enviado para o sistema financeiro e imobiliário, não para o económico, destinando-se à especulação, à compra de títulos e de propriedades em baixa e depois à espera de algum milagre que leve à valorização do seu investimento e a mais valias.

É de esperar que o desenvolvimento económico faça perder empregos, pela automatização e rentabilização de algumas actividades e pelo próprio aumento da produtividade. Se a isso reduzirmos os rendimentos disponíveis para consumo e não fizermos os investimentos correctos, temos uma bomba-relógio nas mãos. O verdadeiro motor do emprego é o consumo, que tão mal tem sido tratado e considerado quase heresia - lembro-me de um seminário em que vários Bispos estavam presentes e de eu quase de lhes pedir desculpa por estar a dizer isto, mas que o consumo é necessário, o permitido pelo rendimento disponível das pessoas, não pelo acesso ao crédito.

Já o investimento também cria emprego. Mas o bom investimento, o reprodutivo. Não as injecções de capital nas grandes empresas, tipo nova ponte sobre o Tejo ou TGV Lisboa-Madrid ou novo aeroporto de Lisboa, ou o escândalo do aeroporto de Beja. Daí o meu medo do termo “crescimento”. Dou o exemplo da Suécia, que aprendeu na década de 90 do século XX uma lição chamada Gestão. Segundo o Sr. Goran Persson: “Podem escolher o modelo social que quiserem, mas têm de o saber gerir”; “Tomem conta do vosso sistema e nunca lhe ponham um fardo superior ao que podem financiar” e “O mais importante do factor crescimento económico não é se os impostos são elevados, mas a forma como são usados”. E os números deste país: a produtividade dos pequenos privados da Suécia tem crescido, continuamente, ao ritmo de 6% ao ano, de forma sustentável; em 2008, a Suécia estava no terceiro lugar nas finanças públicas e há já vários anos que a sua taxa de emprego aumenta. Lá, o que é visto como problema, passa a ser um desafio para ser ultrapassado: por exemplo, o envelhecimento da população e a pressão sobre o sistema de segurança social é entendido como um incentivo para a investigação em áreas como a demência, senilidade e outras relacionadas com o envelhecimento dos suecos, criando valor de exportação para outros países que compense os custos que terão de ser suportados por esta realidade. E se existe uma área em que Portugal tem vantagens competitivas é a que se relaciona com a saúde (investigação, aplicação, farmacêutica, turismo de saúde, geriatria, bom clima e tudo o mais associado).

Portanto, o que está em causa para criar emprego é pensar na reestruturação da economia mas com base no que são as novas necessidades e empregos de uma sociedade que se desenvolve: a cultura, a arte, a educação, a saúde, a geriatria, a ecologia, a democracia, mais do que a justiça, porque só num país subdesenvolvido culturalmente se entende a eleição de governantes que deviam estar na cadeia e de outros que ficam a meio de todos os projectos em que se metem ou brindam com champanhe à implosão de uma Torre do Aleixo, deixando o resto do Bairro devastado, como Rui Rio e o Porto.

José Ferraz Alves
Movimento Partido do Norte