De: Cristina Santos - "Recorro da acção e sem provas, desistes ou queres continuar?"
Ora Tiago, então não basta alegar consciência tranquila, a Baixa do Porto anda mais exigente que o país. A Democracia é até ver o melhor dos regimes, depende é da qualidade da politica. Não tenho provas, nem bibliografia, mas gostava de discutir uma série de evidências, porque julgo que não entendi. Vejamos:
- 1- Do ponto de vista formal, a participação exige filiação partidária. A Assembleia da República representa o povo, é o órgão mais importante em Democracia. Os cidadãos não podem candidatar-se a deputados se não integrarem partidos. A de Presidente da Republica não exige, e como o mesmo tem dito, a sua função é pouco interventiva.
- 2- Os deputados integram partidos que são ou rígidos, os que orientam o voto dos parlamentares de acordo com a disciplina partidária; ou flexíveis que respeitam a autonomia. O que levanta muitas questões em termos da fiscalização que a AR pode de facto exercer.
- 3- Se perguntarmos aos leitores deste blog, não que sirva para amostragem, mas a título exemplificativo, qual a noção que têm dos deputados que elegeram para fiscalizar o Governo, e do seu trabalho, será que sabem responder?
- 4- São tão dignos e morais aqueles que, por falta de identificação com a política e até falta de conhecimento sobre aqueles que vão eleger, optam por não votar, como aqueles que votam, não podem ser penalizados.
- 5- Os direitos de ressarcimento são meramente utópicos, os que votam nada podem exigir a quem já é eleito, e os que não votam assiste-lhes igual direito. Podem contestar com grupos de pressão e associações e votar 4 anos após.
- 6- Não sei se entendi, quando propões que os cidadãos se filiem em partidos, ainda que discordem das condutas políticas dos mesmos, com o propósito de os alterar. Aceito que seja um método democraticamente aceitável, mas, no meu ponto de vista, eticamente reprovável. Penso que os cidadãos devem unir-se em causas em que acreditam e não unir-se a situações das quais discordam, com o propósito de as alterar.
- 7- Também não percebo quando dizes que são poucos, atendendo a que não há cargos vagos e alguns dos mesmos nem sequer são cumuláveis. 230 no Parlamento e centenas por todo o país, empresas públicas, representações, acessórias. Patrocinadores de campanha, grupos económicos, justiça… Este país parece uma claque.
- 8- Isto vai longo, como a hora, o ónus da moralidade não está no povo. Aos partidos compete representar o povo, sem procurar ter legiões de fãs que lhe garantam o poder, porque poder não é isso, devem dignificar a ciência política.
- 9- Se o ónus de moralidade estivesse no povo e se este procedesse com o mérito que a política nacional ostenta, meu querido amigo Tiago, era fácil a vida do povo. Praticávamos todos actos imorais e irresponsáveis, delapidávamo-nos uns aos outros e incluindo o Governo, e seguidamente com uma gravata colorida de inimputáveis íamos tirar mestrados para Paris.
Um abraço
Cristina Santos