De: Maria del mar Velez - "Mãos contra a parede na Es.Col.A da Fontinha"

Submetido por taf em Sexta, 2012-04-20 15:19

1- Todos aqueles que me conhecem sabem que dificilmente me levanto da cama antes do meio dia. Sou o tipo de pessoa que desliga os telemóveis antes de ir para a cama. Estas pessoas que transformaram a escola da Fontinha num lugar bonito, grátis, educativo e criativo, que puseram janelas onde havia buracos, livros onde havia salas com seringas, tintas e colchões de yoga onde havia lixo, não são meus amigos íntimos. São a razão de eu me ter levantado hoje de madrugada. São mais do que apenas pessoas, são uma ideia e ideias merecem ser apoiadas e são definitivamente à prova de despejo.

2- Houve um livro que me veio à cabeça muitas vezes hoje: "um psiquiatra no campo de concentração do Victor Frankle". O primeiro capítulo termina com a frase "os melhores não sobreviveram". Creio que esta é a época de alterarmos isso. Tenho de acreditar nisso. Basta olhar para os olhos dos políticos em todas as bancadas e ver o que lhes falta de genuíno, puro, verdadeiro. Coisas que se encontram nos olhos desta gente da es.col.a. e em tantos outros olhos tão longe da política.

3- Por esta hora já todas as pessoas saberão que fomos arrastados, revistados e tratados como terroristas. O único momento em que as minhas pernas tremeram de raiva e indignação foi aquele em que nos mandaram virar para a parede, pôr as mãos ao alto, também contra a parede e pernas afastadas. Estávamos ali em fila umas 12 pessoas no máximo e uns 100 polícias nas nossas costas. Compreendo que nos arrastem e nos revistem, mas estar ali de costas para eles lembrou-me tantas coisas más, tantas coisas cobardes de tantas guerras.

4- Eles têm medo, muito medo desta gente que se não identifica com partidos, cujos olhos têm sonho e determinação, desta gente que resiste, desta gente que dá aulas grátis, que dá comida grátis, desta gente sem medo. Eles têm medo desta ideia de que a vida pode mesmo ser grátis. Não convém que o resto da população saiba. Tanto medo que aparentemente, depois de nos deterem a todos, as ordens foram para cerrar o mastro da bandeira pirata da es.colinh.a. Depois atiraram tudo pela janela, destruíram os livros, as bicicletas, os computadores. Houve apenas uma pessoa a fazê-lo, o rui rio. recuso-me a escrever o nome deste pequeno homem cobardesinho com letras grandes.

5- Esta boa gente de que falo, esses que têm um olhar manso e de boa gente também estavam na polícia que nos deteve e estão nos exércitos, estão por todo o lado. Que pena que tive dessa gente boa a ser obrigada a cumprir ordens cobardes. Desculpem-me, não tenho o hábito de odiar e tento não classificar por categorias. É tão absurdo dizermos "eu não gosto de polícias" como dizermos "eu não gosto de chineses ou alemães". Fica a minha esperança que esses poucos bons que estão na policia suplantem os tantos descaradamente maus, agressivos, descontrolados e cobardes que por aí andam a fingir que nos protegem e, um dia, se juntem a nós.

6- To be continued...