De: TAF - "Sem anestesia"

Submetido por taf em Quinta, 2012-04-19 22:44

Deixem-me por favor dizer sem rodeios, e com boa intenção, aquilo que penso. Lembro um texto que escrevi há um ano e outro no mês passado. Quanto à atitude da CMP, fica para o fim. Começo pelos okupas e pela população da Fontinha.

1) A ocupação da escola era ilegal? Era. Tantas vezes faço questão de lembrar que não existe o "direito de não cumprir a lei"... A CMP tem o direito de a mandar desocupar? Tem.

2) Foi sensato resistir à desocupação? Não. Por duas razões. Alguém tinha a ilusão de que a Polícia seria incapaz de desocupar a escola? Era absolutamente evidente que a Polícia de Intervenção tem competência e capacidade mais que suficiente para tratar com eficácia deste assunto (e ainda bem, que de incompetentes estamos todos fartos). Essa é a primeira: resistir era ineficaz. Quanto a mim, já tenho a minha dose de vitórias morais e "romantismo", prefiro a eficácia. A segunda é que o respeito pela Lei e pela Polícia (mesmo que não tenham razão), aceitando uma retirada pacífica da escola em face daquele aparato de força bruta, teria mostrado uma superioridade esmagadora face à atitude da CMP. Assim nem por isso...

3) Vamos dar às coisas a importância que na realidade têm. O que é que está aqui em causa, afinal? É apenas a disponibilidade, ou não, de um espaço público. Ninguém impede o projecto de prosseguir pelos seus próprios meios; não se impediram colaborações com a população local; não se prendeu ninguém por delito de opinião, etc., etc.. Apenas se impediu, de forma irracional e idiota, a boa utilização de um espaço que esteve abandonado e que agora vai, pelos vistos, voltar a estar. Isto é motivo para um tolinho se querer imolar pelo fogo? Haja paciência...

4) Escrevi há tempos ao movimento dos okupas: "A meu ver, para manter a sua independência, o projecto a prazo terá de ter receitas próprias e assegurar o seu próprio espaço. Qualquer situação que se baseie na cedência gratuita de um imóvel alheio será, como se tem visto, algo em que não se pode confiar. Mas, mesmo que pudesse, na minha modesta opinião era sempre muito melhor se o projecto tivesse total autonomia. Neste contexto, pergunto: estariam interessados em estudar o uso de locais alternativos, aí na mesma zona da Fontinha, numa situação de arrendamento a custos moderados? Se assim fosse, não só o planeamento de actividades duradouras poderia ser muito mais eficaz, como o projecto teria outra solidez. Mais: evitando uma situação de permanente dependência/conflito com a CMP, provavelmente haveria outras condições para colaborações profícuas com a Câmara e/ou com a Junta de Freguesia."

5) Volto à minha insistência habitual: "menos de 1 munícipe em cada 100 se dá ao trabalho de participar na escolha (em qualquer dos partidos) dos candidatos a presidente da Câmara do Porto. Depois queixem-se." Continuo sem perceber a razão pela qual os cidadãos prescindem de usar as ferramentas da Democracia.

6) Aqui na Fontinha o problema não é a eventual violência policial, insistir nisso é desviar o foco do essencial: a atitude consciente e amadurecida da CMP entrar em confronto com os ocupantes e com a população local. Isso sim é que é grave, incomparavelmente pior do que uma chapada ou uma bastonada forte de mais (embora sempre lamentáveis e inaceitáveis) no calor do momento.

7) Quanto à CMP, não há razões políticas, legais, administrativas ou tão-só racionais que justifiquem aquilo que tem vindo a fazer neste caso. O Alexandre apresentou bem a situação: a explicação encontra-se no foro da saúde mental.